Preço da tinta especial e mão de obra especializada fazem da repintura de fachadas pichadas uma tarefa ingrata e cara.
André Rodrigues/ Gazeta do Povo
O “chato” Adalberto Novak tenta vencer os pichadores que teimam em agir no muro da concessionária onde trabalha
O aglomerado de fachadas rabiscadas com spray na capital não afeta só o visual das esquinas e ruas frequentadas pelos curitibanos. Dói de olhar, mas machuca também no bolso. A Associação Comercial do Paraná (ACP) estima que, para cada repintura, os comerciantes de Curitiba tenham de desembolsar R$ 600. O valor, calculado “por cima”, carece de uma pesquisa técnica, mas serve para dimensionar mais um dos problemas causados pela pichação. Somente neste ano, já foram registradas 772 ocorrências envolvendo pichadores na cidade – o correspondente a 67% do total de registros em 2012.
Segundo comerciantes e pintores ouvidos pela Gazeta do Povo, o custo por despiche é alto porque retirar o spray dos muros e das portas de metal é trabalho ingrato. Só uma tinta antipichação, espécie de verniz que facilita uma nova repintura, sai por R$ 240 – uma lata de 3,6 litros. A mão de obra também entra na conta. “Primeiro lavamos, depois passamos umas duas mãos de tinta acrílica e no fim aplicamos essa anti-pichação”, relata Aleoar Melo, proprietário de uma oficina de pinturas no Bairro Alto.
Há quem diga que a repintura de fachadas pichadas virou inclusive um nicho de mercado na capital, visto a profusão de pichações, mais comuns no Centro. O custo do pintor e da tinta, porém, pode ser pequeno diante de outros prejuízos, como a evasão de clientes que passam longe de ruas deterioradas. “O prejuízo é difícil de medir, tanto para o comerciante quanto para a cidade como um todo. Enquanto não houver uma mudança radical em termos educativos e punitivos, essa é uma queda de braço que vai longe”, afirma o vice-presidente da ACP, Camilo Turmina.
Ressarcimento
Caso o comerciante tenha paciência e um pouco de sorte, pode pedir o ressarcimento dos custos com a repintura na Justiça – mas isso só ocorre se o pichador for identificado e responsabilizado. Para isso, a vítima deve acionar a Guarda Municipal, solicitar o registro da ocorrência e procurar o Juizado Especial Criminal. O difícil é achar alguém em Curitiba que tenha se dado a esse trabalho. “Procurar o Poder Judiciário é o elo que está faltando juntar na corrente. Mas isso é incomum porque as vítimas às vezes se sentem melindradas, já que podem ser identificadas e o delinquente vai saber onde elas moram”, reconhece o diretor da Guarda Municipal, Claudio Frederico de Carvalho.
As denúncias anônimas, ao menos, têm contribuído para frear a ação dos pichadores. Desde o início do ano, 134 foram flagrados e detidos pela Guarda.
Vencendo os pichadores pelo cansaço
Morador do bairro Novo Mundo e responsável por uma concessionária de veículos no Seminário, Adalberto Novak se autointitula um chato. Os jornais e sites de notícias que o digam. Não passa uma semana sem que uma carta ou e-mail enviado por ele chegue com reclamações e constatações sobre as mais variadas demandas curitibanas, tendo como alvo normalmente o poder público. Aqui, vale uma ressalva: com seus 58 anos, Novak é daqueles chatos que falam com propriedade e conhecimento de causa. Por isso, é muito bem-vindo.
Parece óbvio, então, que uma de suas bandeiras mais recentes seja o combate à pichação. Até porque, mês sim, mês não, o muro de um metro e meio da concessionária amanhece rabiscado de spray. Aí, é partir mais uma vez para o “picha, pinta, picha, pinta”.
“É a fachada da concessionária, não podemos deixar o muro emporcalhado. Temos que vencer eles [os pichadores] pelo cansaço. Até que eles mudem de lugar”, diz Novak. O trabalho normalmente é feito por empresas de pintura especializadas e, segundo o administrador, as despesas com tinta e mão de obra se aproximam fácil das estimativas de custos feitas pela Associação Comercial do Paraná.
Além do despiche, a concessionária mudou a posição das câmeras de segurança e instalou uma placa lembrando que a pichação é crime. “As autoridades também têm que fazer algo. Não adianta só o povo protestar”, completa, para não perder a fama.
Dicas
Veja algumas orientações para facilitar a revitalização e evitar que seu comércio seja pichado mais vezes
Despiche
Mesmo que o valor da repintura seja salgado, a orientação é que a pichação seja removida o quanto antes, até porque, segundo a Guarda Municipal, alguns rabiscos podem ser interpretados como signos que facilitam a ação de assaltantes. Determinado traço, por exemplo, pode significar que o local fica desocupado à noite.
Monitoramento
A instalação de câmeras pode inibir a ação de pichadores e também contribuir para a segurança do comércio. Outra opção é dificultar o acesso ao local, por meio de grades ou cerca elétrica.
Iluminação
Locais bem iluminados são menos visados, já que os pichadores ficam mais expostos.
Spray
Há produtos que são utilizados para retirar pequenas pichações. Uma opção é o spray Graffiti Cleaner, já disponível em Curitiba, vendido a R$ 39.
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Serviço
153 é o número para denúnciar pichações. Não há necessidade de se identificar. Se central telefônica da Guarda estiver congestionada, as denúncias podem ser feitas diretamente pelo telefone (41) 3350-3955.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo