sexta-feira, 26 de abril de 2013

‘Jeitinho’ abre portas para sonho olímpico.

Projeto de R$ 2 milhões pretende criar centro de treinamento em Curitiba para abrigar a seleção feminina da modalidade.

Fotos: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Fotos: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo / Atletas trocam o gelo e os patins para tentar alavancar o hóquei menos tradicional no Paraná
Atletas trocam o gelo e os patins para tentar alavancar o hóquei menos tradicional no Paraná
Saem o gelo, os patins e o disco pesado e entram a quadra, os tênis e a bola. É com um jeitinho brasileiro aqui e uma adaptação ali que os paranaenses estão descobrindo o prazer de uma versão menos conhecida do hóquei e já sonham até com a Olimpíada de 2016. A ideia é concentrar no estado a seleção feminina da modalidade.
Para tornar real esta meta, a Confederação Brasileira de Hóquei sobre Grama e Indoor (CBHG) recorreu ao governo federal atrás de recursos para garantir a construção de um centro de treinamentos em Curitiba. A estrutura, que contaria com campo, dormitório e academia, dependeria ainda de uma parceria pública para a doação de área.
 / Espaços para treinar é um dos desafios dos praticantes
Espaços para treinar é um dos desafios dos praticantes

O projeto, segundo a CBHG, foi encaminhado a Brasília no ano passado e deve ser apresentado ao Ministério do Esporte nas próximas semanas. Orçada em cerca de R$ 2 milhões, a iniciativa prevê também a criação de centros em Santa Catarina, São Paulo e no Rio Grande do Sul.
“Nossa ideia é transformar o Paraná em polo de treinamento para a seleção feminina”, antecipa o gerente geral da CBHG, Eduardo dos Santos Leonardo. Ele considera favorável a localização geográfica de Curitiba para o deslocamento de equipes da região Sul. “Também pela proximidade com a Argentina e o Uruguai, isso facilitaria o intercâmbio entre atletas”, analisa Leonardo.
Somente em Curitiba são cerca de 80 jogadores da modalidade, calcula o presidente da Federação de Hóquei sobre Grama e Indoor do Estado do Paraná, Carlo Marucco Neto. “A adesão tem sido muito boa, vemos que o brasileiro tem jeito para o hóquei. Já temos em Curitiba inclusive alguns atletas de nível de seleção brasileira. Esperamos montar um campeonato no segundo semestre”, planeja.
Neto avalia que as perspectivas de chegar até a próxima Olimpíada, no Rio de Janeiro, são boas, ainda que o pódio pareça um pouco distante. O Brasil nunca se classificou na modalidade. “Vamos participar porque somos o país anfitrião. Há a esperança de fazer bonito”, define.
Interesse
Além dos projetos itinerantes em escolas e instituições de ensino superior, a modalidade tem sido oferecida em treinamentos na sede Portão do Sesc e na Associação Viking, dos funcionários da Volvo. A CBHG cedeu os equipamentos – todos importados –, o que evita que os alunos tenham de desembolsar dinheiro para a compra de materiais. “É preciso ter apenas vontade de aprender”, define o presidente da federação paranaense.
Foi isso o que levou o universitário Miguel Pesch Tramontini, de 29 anos, a se interessar pelo esporte. O primeiro contato veio através das redes sociais, após encontrar uma comunidade sobre o tema no Orkut, em 2009. A identificação foi tamanha que de lá para cá o estudante de Química na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) vem participando de uma série de competições.
Na falta de um time formado em Curitiba, cidade de seus treinos, o atleta joga pelo Hóquei Clube Desterro, de Florianópolis (SC). Eles têm se mantido em terceiro no masculino do Brasileirão sobre grama. Já a equipe feminina do clube levou o vice-campeonato ano passado. “Se me dedicar, posso alcançar ainda uma seleção, algo que não poderia pelo handebol, meu esporte anterior. No hóquei, a altura não faz tanta diferença, mas a habilidade”, avalia o jovem de 1,67 m.
Adaptação
Sobre grama, os jogos costumam envolver 11 jogadores de cada lado. Em Curitiba, os adeptos utilizam esporadicamente um campo de futebol oficial, mas sonham com uma estrutura que, em termos de Brasil, só existe ainda no Rio de Janeiro: um campo com grama sintética e sistema de irrigação, que mantém a grama encharcada – como pede a modalidade. Já no indoor, são cinco contra cinco jogando em quadras de futsal, cenário mais comum nos treinos paranaenses. Uma das maiores dificuldades é esta adaptação. O campo oficial para competições sobre grama mede 91 x 55 m, enquanto as quadras de futsal, 40 x 20 m. Até as regras sofrem alterações – no indoor, a bola não pode ser levantada pelos tacos longe ou perto de outros jogadores. Também são usados tacos nas laterais da quadra. Em grama, entretanto, a bola pode ser lançada acima do joelho. Até a bola é diferente para cada caso – lisa no indoor e com ‘ranhuras’ para o jogo em grama molhada.
Sem apoio
Versão ‘in line’ tenta sobreviver

Responsável pela Federação Paranaense de Hóquei na modalidade in line, o professor de Educação Física Ali Nabi Jezzini relata que o esporte está tentando sobreviver no estado. Segundo ele, mais do que patrocínio, faltam incentivos para o hóquei derivado do tradicional, com patins com rodas em linha e disco de plástico. Em Curitiba, ele classifica que a maior dificuldade da federação também é em relação aos locais de treinamento.
“Estamos correndo atrás de um espaço público. Procuramos um local onde os atletas possam praticar hóquei in line pelo menos duas vezes por semana”, explica. Ele e outros adeptos do esporte contam com uma quadra de futsal em Pinhais para treinar. O educador físico avalia que os entraves para obter a disponibilidade de outros espaços ainda seriam maiores do que os voltados à aquisição dos equipamentos para a modalidade. Importados, os materiais podem custar cerca de US$ 2 mil por atleta (R$ 4.040).
Jezzini estima que a modalidade reúna em torno de 30 atletas na capital paranaense e que este número possa ser ampliado se houver divulgação do esporte. Ele também defende a participação do hóquei na próxima Olimpíada. “Nossa seleção [na modalidade in line] está entre as melhores do mundo. Já temos uma expressão positiva porque é uma galera que se dedicou”, enfatiza.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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