sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sem base, Guga vê cenário sombrio.

Gustavo Kuerten, ex-tenista.

André Rodrigues/ Gazeta do Povo
André Rodrigues/ Gazeta do Povo / Gustavo Kuerten cumprimenta aprendiz de tênis em visita à escolinha do esporte em Curitiba: ex-atleta vê país dependente de talentos isolados
Gustavo Kuerten cumprimenta aprendiz de tênis em visita à escolinha do esporte em Curitiba: ex-atleta vê país dependente de talentos isolados
O torcedor vai demo­rar a voltar a ver um tenista do Brasil brigando en­tre os melhores do mundo. A projeção é de Gustavo Kuerten, o maior atleta brasileiro na história da modalidade. Guga esteve ontem em Curitiba para visitar sua escolinha montada na cidade e participar do lançamento de um relógio que o homenageia. Durante os compromissos, ele conversou com a Gazeta do Povo e criticou o trabalho de base desenvolvido no país e os investimentos com foco emergencial. O ex-tenista ainda revelou o desejo de ter enfrentado Rafael Nadal, classificado por ele como o adversário que faltou em sua carreira.
Há muita expectativa para o surgimento de um “novo Guga”. Você vê perspectiva para isso?
A estrutura é muito carente. Existem alguns projetos, mas os resultados levam tempo. Precisamos lutar contra a falta de investimento na capacitação dos professores, no cuidado com iniciação das crianças. Todo mundo, a partir de 1997 [ano do primeiro título dele em Roland Garros], começou a pensar no tênis restrito ao profissional. Foi esquecido o trabalho de base, que é fundamental. Infelizmente, ainda somos reféns de iniciativas particulares.
Como avalia os investimentos realizados para a Olimpíada do Rio, em 2016?
O Brasil não está preparado para otimizar ao máximo as oportunidades olímpicas. E o tempo vai passando mais rápido. Vão ser projetos emergenciais, visualizando resultados exclusivos nesses Jogos. Os projetos têm de estar dentro de um plano maior. Não existe um pensamento a longo prazo, para 10, 20 anos. Esse é o nosso erro.
O que você achou da limitação dos mandatos de presidentes de federações e confederações esportivas, aprovada na última terça-feira?
É um avanço importante, esses ajustes são necessários. Está muito defasado o sistema legal nessas entidades esportivas. O COB [Comite Olímpico Brasileiro] também precisa acompanhar, fiscalizar mais de perto as federações e confederações. Eu critico, porque acho que é meu papel. Não quero que as pessoas tenham de passar pelas mesmas dificuldades que eu passei. Quero ajudar a proporcionar uma nova realidade.
Você pensa em entrar mais na área de gestão esportiva, virar dirigente?
Ficaria mais limitado como dirigente. O meu papel abrange uma esfera maior, por isso não tenho interesse.
O Rafael Nadal voltou de uma grave contusão no início do ano e faz uma temporada espetacular. Você imagina como seria um confronto com ele?
Seria 6/2, 6/3 tranquilo para mim [risos]. Mas, sério, até já sonhei com isso. É o jogo que faltou na minha carreira. Seria uma rivalidade absurda. Iria me forçar a ser bem melhor do que eu já era e adorava esse tipo de estímulo. Teria de dar um jeito de ganhar do cara. Quem sabe em um jogo exibição? Mas vou esperar mais uns dez anos, para ele ficar velhinho também.
Neste ano, com a Teliana Pereira, voltamos a ter uma tenista entre as 100 melhores do mundo depois de 23 anos [atualmente ela é a número 105]. Isso é motivo de alegria ou preocupação pelo longo jejum?
Temos atletas de potencial. Mas o problema é que sempre estamos nas mãos de um ou dois atletas. Deveria ser 10, 12. É difícil porque esses tenistas já sabem que carregam o peso de ser o futuro da modalidade no país. O [Thomaz] Bellucci sente muito isso hoje. Temos de dissipar mais.
Não estamos com tenistas no top 100 na disputa individual. No entanto, Bruno Soares e Marcelo Melo estão entre os dez melhores do mundo nas duplas. É uma surpresa?
Eles vêm sustentando esse desejo das pessoas de ver o Brasil brigando. Acho que é inesperado até para os dois, mas fundamental. Eles dão um respaldo para se manter a “luz” do tênis acesa no país.
Começa nesta sexta-feira [hoje] o duelo entre Brasil e Alemanha pela Copa Davis. O país tenta se manter no Grupo Mundial. O que espera do confronto?
É superdifícil. Estamos num papel de zebra bem evidente. Temos mais chances com o jogo das duplas. Temos de fazer chover lá. Pelo contexto atual, eles são favoritíssimos.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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