quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A mão que empurra o balanço.

Associação Brasileira de Brinquedotecas completa 30 anos de atividade garantindo às crianças o direito de se divertir.

Fotos: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Fotos: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo / Clínica Serpiá, em Curitiba, tem uma brinquedoteca para ajudar no tratamento da saúde mental de crianças e adolescentes
Clínica Serpiá, em Curitiba, tem uma brinquedoteca para ajudar no tratamento da saúde mental de crianças e adolescentes
Se a frase “brincar é coisa séria” se tornou um lugar-comum, ou quase, é pelo trabalho de entidades como a Associação Brasileira de Brinquedotecas (Abbri). Há 30 anos, a entidade forma profissionais e presta consultoria para interessados em construir espaços dedicados à brincadeira. Sua missão autodeclarada é “garantir o direito de a criança continuar sendo criança”, o que significa, basicamente, criar um cenário em que a imaginação e a inocência dos pequenos não seja contaminada por problemas financeiros ou de saúde. É a mão que empurra o balanço: impulsiona e protege fora do alcance de visão, respeitando a autonomia da criança.
Hoje com mais de 50 entidades associadas, a Abbri foi fundada a partir de um trabalho desenvolvido na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de São Paulo. Nylse Helena Silva Cunha, então pedagoga da instituição, desenvolvia um trabalho com brincadeiras em tratamento clínico. Em 1973, a Apae implantou um rodízio de empréstimo de brinquedos batizado de Ludoteca, que funcionava nos moldes de uma biblioteca circulante. Era o embrião do conceito de brinquedoteca, um termo cunhado pela pedagoga e título de seu livro, que se tornou bibliografia básica para profissionais do setor.
Desde 1984, quando a Abbri passou a existir oficialmente, a entidade prestou assessoria para a instalação de mais de cem brinquedotecas. Também ministra cursos regulares para formação de brinquedistas. “São pessoas que multiplicam o trabalho em seus estados”, afirma a psicóloga Sirlandia Oliveira, membro da diretoria da Abbri. Ela lembra que o interesse por esse trabalho não está mais restrito a ONGs e entidades de ação social. “Uma lei federal obriga hospitais com internamento infantil a manter espaço para brincadeira. Shoppings e hipermercados também têm oferecido esse serviço aos clientes”, cita.
O objetivo da brinquedoteca não é apenas social, embora os profissionais reconheçam que o custo do brinquedo é alto para os padrões brasileiros. Essas estruturas são inseridas em tratamentos de saúde e no ensino, além de espaços comerciais. Uma corrente mais atual defende a criação de espaço específicos para idosos, com jogos e espaços de convivência.
Natural
O ser humano nasce com o ímpeto de brincar e a criação de narrativas imaginárias faz parte do desenvolvimento da criança, como apontam estudos na área de psicologia. Ensinar a brincar é desnecessário, mas criar oportunidades à brincadeira é uma preocupação atual. “Os espaços para brincadeira estão cada vez mais escassos, em casa ou na rua. As crianças acabam ficando restritas a diversões eletrônicas, o que tem efeitos limitantes”, ressalta Sirlandia.
A entidade estimula a multiplicidade de formas de brincar ministrando cursos sobre jogos de tabuleiro, brincadeiras de pátio (pega-pega, esconde-esconde) e cantigas de roda. Uma forma de evitar apelos comerciais de brinquedos associados a personagens famosos. “Isso é um crime mercadológico. O apelo é muito forte e a criança não tem maturidade para recusar.”
ONG
Brinquedoteca revela comportamento de crianças em tratamento
Uma das entidades associadas à Associação Brasileira de Brinquedotecas (Abbri) no Paraná é a Associação Serpiá, ONG curitibana que oferece tratamento de saúde mental para crianças e adolescentes. Com 10 anos de atividade e 170 crianças atendidas, a Serpiá insere a brinquedoteca no processo terapêutico convencional. Os pacientes passam uma hora em consulta e outras duas ou três brincando e interagindo com outras crianças. “Na brinquedoteca, as crianças acabam revelando detalhes sobre suas condições. Temos a chance de perceber quem tem problema com regras ou quem não se comunica. Tudo isso é levado para os terapeutas”, explica a pedagoga Isis Romankiu de Alencar, responsável pela brinquedoteca.
A estrutura está instalada em um imóvel na sede da instituição, no bairro Alto da XV. O acervo é renovado por meio de doações. Todo tipo de brinquedo é aproveitado. “O trabalho está na relação da criança com o objeto. Qualquer coisa pode ser um brinquedo. Dias atrás, a árvore do pátio virou bicho-papão. Quanto mais a criança brincar, mais estará se preparando para lidar com a realidade.”
A Serpiá também promove cursos de educador brinquedista em parceria com a Abbri. Os alunos costumam ser profissionais de Pedagogia, professores e terapeutas ocupacionais, mas também há interesse de mães e babás. “É, basicamente, uma instrução sobre a forma de interação mais adequada. O adulto precisa dialogar com esse universo, mas sem interromper a espontaneidade da criança”, define Marion Weber Schiller, terapeuta da Serpiá e uma das organizadoras do curso.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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