terça-feira, 30 de julho de 2013

Sem limites para pedalar mais longe.

Daniel Auer, conhecido como “o ciclista sem mãos”, percorreu mais de mil quilômetros em viagens pelo país e sonha agora com uma aventura internacional.

Josué Teixeira/ Gazeta do Povo
Josué Teixeira/ Gazeta do Povo / Polivalente, Daniel Auer faz do esporte uma ferramenta de inclusão
Polivalente, Daniel Auer faz do esporte uma ferramenta de inclusão
Ciclista, comerciante, palestrante e campeão de para-tiro. Tudo cabe na rotina do ponta-grossense Daniel Auer. Desde que conheceu o esporte, ele traçou na vida o caminho que bem entendeu. Daniel nasceu sem as mãos por causa de um medicamento receitado para a mãe durante a gravidez, para tratar os enjoos. As sequelas eram pouco conhecidas na época. Tentando proteger o filho, dona Valderez nunca deu ao menino a tão desejada bicicleta. Mas aos 12 anos, encontrou uma por conta própria, abandonada na rua. Aí não tinha mais jeito de impedir.
Hoje com 38 anos, Daniel mora no bairro de Oficinas com a esposa, a filha de 11 anos e uma enteada. Desde o ano passado, cuida praticamente sozinho de uma mercearia construída em um cômodo da casa: ele mesmo colocou o piso, os azulejos, aplicou o grafiato nas paredes.
Há dois meses, também atua como diretor de esportes na Associação Pontagrossense de Esportes para Deficientes Físicos (Apedef). O envolvimento com a prática esportiva ajudou o homem que, pela timidez, não gostava nem de sair de casa. “Hoje em dia, só Deus me segura”, diz.
Quando a cidade ficou pequena para o tamanho da vontade, o ciclista sem mãos passou a planejar viagens de bike pelo Brasil. A primeira foi em 2007, quando seguiu até Itajaí (SC) para participar de evento esportivo para pessoas com deficiência. Foram 350 quilômetros pedalados em cinco dias de estrada. Lá, conheceu atletas com necessidades ainda maiores. “Vi que o mundo era outra história. Fiquei pensando que, na verdade, não tenho nada. Tenho só que agradecer por conseguir me virar”, diz. No retorno, foi preciso lidar com a quantidade de telefonemas. Todo mundo queria saber sobre sua aventura.
Na segunda vez, o destino foi Aparecida no Norte (SP), em 2008. A motivação era cumprir uma promessa para curar o câncer da mãe, descoberto naquele ano. Infelizmente, dona Valderez faleceu dois meses antes da viagem. “Mas eu fui mesmo assim. Fiz como uma homenagem a ela”, conta. Lá se foram mais 822 km de pedal em 12 dias.
Para 2014, ele planeja uma viagem internacional com a bicicleta, talvez para algum país vizinho. “Com humildade e trabalho, a gente consegue o que quer”, defende.
Palestras dão a noção de como é viver sem as mãos
Quando a visibilidade aumentou, começaram os convites para dar palestras em escolas, faculdades e empresas. Nessas ocasiões, Daniel Auer tentar dar aos espectadores uma noção da dificuldade que enfrentou. “Eu chamo algumas pessoas da plateia e enrolo as mãos delas com fitas. Depois faço elas quebrarem ovos, cortarem pão. O pessoal se diverte, mas a coisa é séria”, relata.
Nos eventos, Daniel afirma que consegue mudar a percepção do público sobre sua limitação. “No começo, sou visto como coitado. No fim das palestras, as pessoas estão emocionadas. Hoje, me olham como vencedor”, diz.
Nessa história toda, teve ainda experiência como repórter em uma emissora local. No programa, ele mostrava problemas de mobilidade em Ponta Grossa. A preocupação com o tema o levou também a participar de grupos cicloativistas e a se candidatar ao cargo de vereador nas eleições do ano passado. Recebeu 584 votos – 0,34% dos votos válidos –, o suficiente para ser suplente.
Infância
Primeira bicicleta foi encontrada abandonada
Mesmo estragada e sem pneus, a primeira bicicleta, encontrada na rua, virou seu brinquedo favorito de Daniel Hauer durante a infância. “Foi a bicicleta que eu mais caí. Mas nunca desisti. Era meu jeito de sentir o vento soprar no rosto”, conta. As próximas bikes precisaram apenas de uma adaptação: as alavancas do freio ficam viradas para cima, facilitando o acionamento.
Quando Daniel era criança, dona Valderez colocava uma capa nas costas do filho, amarrada ao pescoço. Assim, era possível outra brincadeira: imitar a capa do Super-Homem contra o vento, enquanto ele pedalava pelas ruas do bairro. Vendo dessa maneira, nem parece que a mãe morria de medo que ele andasse de bicicleta. E essa era só a primeira aventura.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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