terça-feira, 28 de maio de 2013

Por celular, preso do 5º DP pede ‘socorro’, ao vivo, em programa de rádio.

Detento reclamou da superlotação da carceragem, que tinha 149 presos onde caberiam apenas 24; polícia diz que é difícil controlar entrada de celulares.

A conversa foi inusitada: de dentro do 5º Distrito Policial, zona norte, um preso ligou de celular, na manhã de ontem, para a rádio Paiquerê AM e denunciou ao apresentador Carlos Camargo, ao vivo, a crítica superlotação da carceragem.

Na conversa de pouco mais de três minutos com o apresentador, o detento, que se identificou como Cléber, pediu “socorro” às autoridades de segurança da cidade e contou que os próprios detentos impediram a entrada de novos homens na carceragem superlotada.

Ontem, segundo a Polícia Civil, 149 presos estavam onde caberiam apenas 24 – em seis celas. “‘Tá’ impossível ficar aqui dentro. Uma cadeia para 35 detentos e tem mais de 130. Tem suspeita de tuberculose aqui dentro”, contou o preso, em entrevista pelo telefone. Segundo Cleber, dos seis banheiros das celas só dois estavam funcionando. O detento também reclamou que as visitas de familiares foram cortadas e afirmou que todos estavam proibidos de receber alimentos de fora – a “jumbada”, no jargão da cadeia.

É a segunda ou terceira vez que isso acontece”, diz o produtor do programa, Valmir Martins, jornalista que atendeu ao telefonema. “Ele ligou na produção, falou que precisava de ajuda e que estava dentro do 5º Distrito. É um absurdo ter celular dentro da cadeia. Mas como não levar ao ar alguém que está em uma situação dessas?”, diz o jornalista. Antes de a ligação ir ao vivo, Martins explica que os presos se reuniram e combinaram quem falaria. “Como eles conseguem esses créditos para ligar é o problema. Com certeza passam o dia em golpes usando o próprio celular.”

Segundo a Lei de Execuções Penais, o uso de celular dentro do sistema carcerário é considerado como falta grave e pode levar o preso a perde benefícios, como a progressão para o regime semiaberto, por exemplo.

Após a denúncia ir ao ar, o juiz da Vara de Execuções Penais (VEP), Katsujo Nakadomari, determinou a remoção de 10 presos para a Penitenciária Estadual de Londrina 2 (PEL), movimentação que aconteceria entre ontem e hoje, com suporte do Departamento Penitenciário (Depen).

Difícil controle

“Esse negócio de preso no celular é complicado”, lamenta o delegado chefe da Polícia Civil, Márcio Amaro. “A revista não pega tudo porque não temos estrutura de presídio para checagem”, afirma.

Segundo ele, os presos recebem celulares de várias formas: “Jogam através do muro, pela grade, entram na parte íntima de mulheres”, enumera. “Infelizmente acontece”. O delegado pediu para hoje suporte da Polícia Militar para um pente-fino nas celas. No mês passado, um dos presos do 5° DP, Welington Carlos Barbosa, 19, publicou no Facebook uma foto tirada de dentro da cela.

Sobre a superlotação, Amaro esperava que as 10 remoções de presos para a PEL surtiriam um efeito “apenas momentâneo”. De acordo com o delegado-chefe, os presos permanecem soltos nos corredores entre as seis celas no 5º DP e “se viram como podem”.

O chefe da Polícia Civil de Londrina confirmou um princípio de tumulto ontem, quando os presos se rebelaram para impedir a entrada de dois novos detidos e reconhece as péssimas condições estruturais da cadeia. Sustenta, no entanto, que a Polícia Civil “deixa tudo nas mínimas condições para receber os presos”.

Confira os principais trechos do diálogo entre o preso e o apresentador da rádio Paiquerê AM
Carlos Camargo - Cleber, bom dia! Fala de onde?Detento - Ô Camargo, falo do 5º DP. Falo pela voz da cadeia e me escolheram para falar com você. Tá impossível ficar aqui dentro, uma cadeia com 35 detentos e tem mais de 130 detentos. Tem suspeita de tuberculose aqui dentro. E são seis ‘boi’, mas só dois tão ativado (sic). Camargo - Boi é banheiro? Detento - É. Os outros estão tudo entupido. A gente estamos sendo oprimidos porque o plantão só sabe abrir a portinhola e jogar preso para dentro. Tem ladrão aqui que já podia estar no direito do semiaberto, gente com cadeia paga.
Camargo - E vocês tão querendo fazer o quê? Detento - A gente quer uma melhoria. Que os recursos humanos (sic) venham ver nossa situação aqui, entendeu? Estamos sem visita e sem pátio, porque na cadeia lotada os presos tentam fugir mesmo. Deixaram a gente sem visita, sem jumbada, com gente doente aqui. A gente quer uma posição das autoridades, entendeu?
Camargo - Vocês estão em 140 presos onde cabem 35? Detento - Sim, em 140 aqui. Em pleno domingo entrou mais quatro, hoje entrou mais dois que não deixamos e tão (sic) no quadrante do lado de fora. Então, os que ficaram aqui querem pagar cadeia e o erro que cometeu. Mas nessa situação não dá, não tem ninguém para socorrer a gente nessa questão da superlotação.
Camargo - A superlotação é o principal incômodo de vocês? Detento - É. Dormir em (inaudível) apertado, tem até senhor de idade, rapaz. Entendeu?
Camargo - E os presos estão quietinhos, por enquanto não se rebelaram nem nada. O que vocês querem é que as autoridades acordem para o que vocês estão vivendo, certo? Detento - Entramos em contato primeiro com você para ver se tem um parecer hoje. Essa cadeia tem que esvaziar. Se não tiver como esvaziar... a cadeia está de boa, não tem briga, está pacífica. A partir do momento que não tiver um parecer vamos começar a partir para o outro lado.
Fonte: Jornal de Londrina





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