Ministério Público do Paraná alega que homem ofereceu de R$ 2 mil a R$ 3 mil para “aliviar” a situação dele em caso de briga de vizinhos.
O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do Ministério Público do Paraná (MP-PR), denunciou à Justiça Criminal de Curitiba quatro pessoas por suspeita de corrupção, três delas funcionários públicos. Os promotores alegam ter provas de que o empresário Sérgio Roberto de Castro procurou o sub-tenente da Polícia Militar (PM), Eloir Antônio Padilha, para oferecer dinheiro ao escrivão Luis Gustavo do Amaral e à delegada Selma Regina Lorena Braga de Morais, ambos do 8º Distrito Policial (DP) no bairro Portão. O objetivo, segundo o Gaeco, seria fazer com que o suborno “aliviasse” uma suposta acusação contra ele de ameaça e disparo de arma de fogo.
A Gazeta do Povo procurou os envolvidos. A delegada e o PM negaram a acusação e os dois disseram nem se conhecer pessoalmente. O escrivão e o empresário não foram localizados. Segundo Selma, o escrivão estaria de férias. Na denúncia levada à Justiça nesta terça-feira (10), o Gaeco pediu o afastamento dos três servidores públicos, mas o caso ainda não foi julgado. O policial militar e o empresário são acusados de corrupção ativa e a delegada e o escrivão devem responder por corrupção passiva.
O coordenador estadual do Gaeco, oprocurador de Justiça Leonir Batisti, explicou que no fim do ano passado houve um briga de vizinhos. O empresário denunciado teria ameaçado um casal que mora em um apartamento do condomínio onde aconteceu a discussão. Um Boletim de Ocorrência (BO) sobre a ameaça foi registrado no 8º DP. Posteriormente, o casal ameaçado teria notado que a fechadura do apartamento tinha vestígios de ter sido atingida por um tiro. Eles teriam feito fotos do local e levado as imagens e a fechadura até a delegacia, onde o BO foi retificado para “ameaça e disparo de arma de fogo.”
“O empresário procurou então o policial militar, que já conhecia, para ‘aliviar’ a situação no Distrito, onde tinha sido intimado a comparecer para explicar o disparo. Com a intermediação do policial militar, o empresário foi à delegacia e ofereceu de dois a três mil reais à delegada e ao escrivão”, relatou o procurador. Porém, o valor da oferta não foi esclarecido. “Não ficou comprovado o valor exato. Mas vale ressaltar que a própria oferta e a aceitação da oferta, independentemente do pagamento, constitui crime”, declarou.
Para o procurador, existe um conjunto de provas que sustentam a denúncia contra o grupo. Uma delas é o fato da delegada ter denunciado o empresário somente pela ameaça e não pelo disparo de arma de fogo. “Foi feito um termo circunstanciado (da ameaça) e enviado para o Juizado Especial. No caso do disparo, o fato deveria virar um inquérito policial e ser encaminhado para a Vara Criminal”, disse Batisti.
O coordenador do Gaeco completou: "Seguraram este material, a fotografia, a declaração do casal que relatou os vestígios do projétil e seguraram a fechadura, que é a prova do disparo." A pena para condenações de ameaça é de um mês a seis meses de prisão. Já a pena para o caso de um tiro pode ser de dois a quatro anos.
Outro lado
A delegada Selma Regina Lorena Braga de Morais negou a acusação e classificou a denúncia como “fantasia”. Ela confirmou que foi procurada pelo Gaeco e prestou depoimento sobre o caso na condição de testemunha, mas negou que conhecesse o PM envolvido. “Com esse policial militar eu não tive conversa alguma. Não o conheço pessoalmente. Não houve nenhum tipo de tratativa”.
Selma afirmou que não incluiu o suposto disparo na denúncia do caso da briga dos vizinhos por falta de provas. “Como não havia nenhum tipo de certeza quanto ao disparo da arma de fogo, fizemos o procedimento pela ameaça e mandamos para a Justiça. Como não havia nada mais contundente, não havia apreensão de arma, esperamos que as vítimas apresentassem testemunhas, o que não aconteceu”, disse ela. “Se tivesse algum tipo de influência, não se instruiria nada”, defendeu-se.
O policial militar Eloir Antônio Padilha também negou conhecer a delegada, o empresário citado na denúncia e disse que nunca intermediu a negociação. “Não tenho conhecimento de nada disso aí. Para mim isso é novidade.” Segundo ele, o Gaeco nunca o havia procurado para tratar do assunto ou prestar depoimento. “Não sei porque envolveram meu nome. Para mim é novidade. Vou procurar um advogado para saber. Eu tenho 29 anos de trabalho”, declarou.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo
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