quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Escolas do Rio contratam seguro contra bullying.


As escolas parecem ter uma nova preocupação em relação ao bullying: além de educar seus alunos para evitar esse tipo de violência física ou psicológica, as instituições de ensino agora querem se proteger de possíveis prejuízos fi­­nanceiros causados por ações na Justiça movidas por famílias de vítimas. Vinte colégios já contrataram um seguro contra bullying, criado há quatro meses pela Ace Seguradora.
“O novo Código Civil entende que o colégio é responsável pela reparação civil de seus estudantes. Nosso objetivo é dar proteção ao patrimônio das instituições”, explica Rodrigo Granetto, chefe de Responsabilidade Civil Profis­­sional da Ace. A empresa não revela os nomes dos seus clientes.
O seguro pode ser contratado por universidades, colégios, escolas de idiomas, entre outros tipos de instituições de ensino. O dinheiro garante recursos financeiros na defesa jurídica de funcionários e também no pagamento de indenizações estabelecidas pela Justiça às vítimas em casos de bullying. De acordo com Granetto, o valor mínimo a ser pago ao segurado fica em torno de de R$ 100 mil, mas pode chegar a milhões de reais, dependendo do porte da escola, do perfil de seus estudantes e do valor escolhido pela instituição.
Mãe de uma vítima de bullying, Ellen Bianconi move uma ação contra o Colégio Nossa Senhora da Piedade, no bairro Encantado, no Rio de Janeiro. Até agora a indenização estabelecida é de R$ 100 mil, mas a escola apelou. Ela não aprova a ideia do seguro: “Minha filha teve o cabelo cortado e foi agredida por três alunos. Eu já havia conversado com as professoras e a diretora sobre as agressões verbais, mas alegaram que não podiam fazer nada. Se fossem bem preparadas para lidar com o tema, nada disso teria acontecido. O seguro só deixa a instituição numa posição confortável, mas não vai mudar nada”, opina Ellen.
A longo prazo, a Ace Seguradora quer mais do que vender apólices às instituições. O plano é criar um banco de dados sobre a ocorrência de violência nas escolas para ajudar os segurados com informações sobre os melhores procedimentos para combater o bullying. “Com isso, vamos evitar as ações na Justiça, as quais podem obrigar ao fechamento de escolas, que, com condenações recorrentes, ficarão com imagem arranhada”, diz Granetto.
O próprio presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro (Sinepe Rio), Victor Nótrica, reconhece que a falta de conhecimento sobre o problema é uma das maiores falhas das escolas. Para ele, o seguro pode ser útil, mas a prevenção é mais eficaz. “Se eu fosse proprietário de uma escola, não contrataria o seguro de jeito nenhum. Acho melhor usar o dinheiro para investir na reeducação de alunos, na capacitação de professores e na aproximação dos pais com os colégios”, comenta.
Granetto rebate esse tipo de crítica, explicando que o seguro não foi criado como uma solução para a violência nas escolas. “O seguro não tem a intenção de resolver o problema. É apenas uma das medidas a serem adotadas nas instituições. Deve haver treinamento de funcionários e professores e campanhas de conscientização dos estudantes, além da criação de um ambiente favorável ao diálogo nas escolas.”
Fonte: Agência O Globo

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