sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Adesão do Paraná ao Pronatec decepciona.

Com quase 15 mil inscritos, Paraná é o 10º estado com o menor número de matrículas no programa que oferta cursos gratuitos.

Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Jonathan Campos/ Gazeta do Povo / Claudio Bezerra Motta, 47 anos, que fez os cursos de padeiro e confeiteiro do Pronatec Brasil sem Miséria
Claudio Bezerra Motta, 47 anos, que fez os cursos de padeiro e confeiteiro do Pronatec Brasil sem Miséria
O Paraná tem a pior relação de matrículas nos cursos do Pronatec Brasil sem Miséria por família do Cadastro Único (CadÚnico) entre os vizinhos da Região Sul. Apenas um paranaense se inscreveu a cada 67 famílias do estado que têm renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa (R$ 339). Com quase 15 mil inscritos ao todo, o Paraná é o 10.º estado do país com o menor número de matrículas efetivadas – um desempenho pior que o de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
No país, a proporção é de uma matrícula a cada 34 famílias de baixa renda. Mais de 690 mil pessoas foram matriculadas no Pronatec Brasil sem Miséria. O estado gaúcho é o que mais atraiu trabalhadores, com 88.551 inscritos – um a cada 11 cadastrados no CadÚnico. O Pronatec é um programa de qualificação profissional que visa estimular a inclusão produtiva de beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família. Oferece cursos técnicos e tecnológicos gratuitos, além de alimentação, transporte e material didático.
Segundo dados do Minis­tério do Desenvolvimento So­cial, entre o início do programa e o último dia 9, 14.947 paranaenses se matricularam em um dos 553 cursos ofertados pelo Sistema S (Senac, Senai e Sesi) e pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR). O estado tem 1 milhão de famílias no Cadastro Único, pré-requisito para se matricular no Pronatec.
Segundo Nircélio Zabot, coordenador de Renda e Cidadania da Secretaria da Família e Desenvolvimento Social do Paraná, o estado reconhece que os números não são bons e, por isso, no último mês de junho foram realizados fóruns regionais para mudar esse cenário.
“Tivemos 11 encontros com a participação de mais de 2 mil pessoas de 314 municípios. Os resultados já começaram a aparecer, tanto que na época tínhamos pouco mais de 4 mil matrículas e, em três meses, já superamos a casa dos 14 mil. Daqui para frente, esses números tendem a crescer ainda mais”, afirma Zabot.
Pobreza
Nos últimos anos, segundo o ministério, 28 milhões de brasileiros deixaram a situação de extrema pobreza. Ainda há, porém, 21 milhões de famílias consideradas pobres ou extremamente pobres. Para Jucimeri Isolada Silveira, professora de Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o país precisa investir em qualificação e educação para avançar. “Precisamos de políticas que deem trabalhos mais estáveis, com maior capacidade de renda, e esse capital humano se faz com qualificação profissional e educação. Por isso, os municípios precisam mobilizar esse público.”
Curitiba é a segunda capital que menos matriculou
O desempenho de Curitiba em termos de matrículas efetivadas no Pronatec Brasil sem Miséria colaborou para o baixo alcance do programa no estado. De acordo com dados do Ministério de Desenvolvimento Social, a capital paranaense teve apenas 678 inscrições para os cursos – quantidade superior apenas a de Palmas (TO), que formou 228 profissionais na ação.
Segundo Paula Araripe, da Fundação de Ação Social (FAS), o desempenho precisa melhorar. Ela diz que uma nova estratégia será lançada até o início do próximo ano.
“A prefeitura acredita na superação da pobreza por meio da inclusão produtiva. Para tanto, a FAS irá coordenar o Curitiba sem Miséria e integrar o Pronatec ao Liceu de Ofícios, programa de capacitação municipal que realizou mais de 18 mil atendimentos neste ano”, explica Paula, que é diretora de Mobilização para o Mundo do Trabalho.
Um dos problemas para a baixa adesão ao programa federal, segundo ela, é a dificuldade de levar o programa aos bairros mais periféricos da cidade. “Como o programa é executado pelo Sistema S e pelo IFPR, a informação dos cursos acaba não chegando ao público alvo, o que será resolvido com a integração ao Liceu de Ofícios.”
Porta de entrada
Em todo o país, os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) são a porta de entrada para se matricular nos cursos do Pronatec Brasil Sem Miséria. Em Curitiba, existem 45 Cras. Os endereços podem ser consultados no site da prefeitura (www.curitiba.pr.gov.br).
Desempenho
A pacata Kaloré está entre as 30 que mais matricularam no Paraná
Ofertar cursos que sejam atraentes para a população e divulgar o Pronatec Brasil sem Miséria. Esse é o segredo de Kaloré, cidade da Região Norte que tem o 121º Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Paraná e, segundo o último Censo Demográfico, 6,4% da população vivendo com até meio salário mínimo. “O ramo têxtil é muito forte na nossa região, sempre buscamos vagas para costureira e mecânica de máquina de costura. Além disso, fazemos uma grande divulgação na rádio comunitária e nas visitas de porta em porta feitas pelas assistentes sociais”, explica Acácia Cristina Verza, diretora do Cras da cidade. Até o último mês de julho, o município tinha 664 famílias inscritas no Cadastro Único. No total, 129 pessoas se matricularam no Pronatec Brasil sem Miséria na cidade – o que equivale a 20% do total. A divulgação e a visita em locais de maior vulnerabilidade social também foram armas de Cascavel, cidade com 23.483 famílias inscritas no CadÚnico e que teve 1.460 matrículas no Pronatec – a maior quantidade do Paraná. “Levamos o programa a essas regiões e fizemos uma parceria com a Agência do Trabalhador para divulgá-lo a quem estava procurando emprego”, disse Inês de Paula, secretária de Assistência Social do município.
Na batalha
Alunos elogiam cursos, mas ainda procuram emprego
Cansado da vida noturna que levava em função do seu trabalho como bartender, Claudio Bezerra Motta, 47 anos, decidiu mudar de profissão quando ficou desempregado. Ao ouvir na rádio a divulgação do Pronatec Brasil sem Miséria, procurou um Cras de Curitiba e resolveu fazer um curso de padeiro, seguido de um de confeiteiro. “Sabia fazer arroz e feijão, mas nada muito elaborado. Hoje, até banoffi [torta de banana] eu preparo”, conta ele, que atualmente cuida de uma casa no Alto da XV em troca da moradia e está procurando emprego no seu novo ofício para abandonar o Bolsa Família. “Assim que encontrar, desisto do benefício”, afirma.
Cabeleireira
Maria Aparecida Gonçalves, por sua vez, era beneficiária do Bolsa Família antes de conhecer o Pronatec e ficou sabendo dos cursos em um mural do Cras. Moradora de uma área de risco no bairro Caximba, ela se formou nos cursos de cabeleireira, manicure e agora faz shiatsu, uma técnica oriental de massagem.
“Estou cortando o cabelo dos vizinhos, fazendo as unhas, mas gostaria de associar o shiatzu à depilação e onde moro falta estrutura”, conta.
Apesar de ainda viver na informalidade, Maria elogiou a qualidade dos cursos, que têm duração mínima de 160 horas. “Os cursos são ótimos e estão me ajudando, porque às vezes não tinha dinheiro sequer para pegar ônibus”, diz.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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