sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Relatório da UFPR de 2012 indicava aumento no custo da Arena.

Levantamento usado para convencer BNDES a liberar empréstimo ao Atlético apresentava ressalvas que apontavam aumento no valor.

Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo / Fachada da Arena em reforma para a Copa do Mundo: obras passaram de R$ 184,5 milhões para R$ 265 milhões
Fachada da Arena em reforma para a Copa do Mundo: obras passaram de R$ 184,5 milhões para R$ 265 milhões
O acréscimo de R$ 80,5 milhões para a conclusão da reforma da Arena da Baixada entre a previsão inicial (R$ 184,5 mi) e a atual (R$ 265 mi) não surpreende o responsável pela análise do orçamento da obra. O relatório assinado no ano passado pelo professor de engenharia civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mauro Lacerda Santos Filho, apresentava ressalvas que indicavam risco de aumento nos valores então estipulados para a reformulação do Joaquim Américo.
Requisitado pelo Minis­tério do Esporte, o parecer dis­­corrido em 48 páginas de análises e tabelas foi imprescindível para a liberação do empréstimo do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Mesmo com as observações, o primeiro orçamento apresentado pela CAP S/A atendeu às exigências de compatibilidade financeira do Tribunal de Contas da União (TCU).
Entre as advertências estavam questões relativas aos custos de etapas de infraestrutura e supraestrutura, gestão da obra, projetos de engenharia, verbas e assuntos diversos. Chamam a atenção, no entanto, pontos que encareceram a implantação do projeto.
A mão de obra, por exemplo, seria contratada sem levar em consideração o dissídio coletivo, fato que significaria um acréscimo nos custos logo de partida.
Houve divergências ainda sobre produtos e serviços contratados abaixo do preço de mercado. O clube normalmente explicava que tinha contrato com o fornecedor que garantia tal valor, mas, segundo Santos, nem todos os casos recebiam justificativa.
“Nosso trabalho não era fazer laudo. Era apontar o erro, verificar se havia consistência no projeto. Um aviso para as entidades responsáveis pela fiscalização e pelo empréstimo colocarem o trem nos trilhos”, explica o professor. Há várias menções no documento sobre di­­ficuldade de fluxo de informações entre a UFPR e o Atlético e também da não entrega de documentos por parte do clube.
Em relação a atividades de supraestrutura, como a cobertura do estádio, as planilhas mostravam apenas estimativas de preços. Ou seja, não havia exatidão do quanto seria necessário para realizar a construção, causando, assim, impacto elevado em relação ao valor global do orçamento. “Com tendência de acréscimo e não decréscimo no custo”, ressalta a análise. Na época, a cobertura retrátil não estava contemplada no orçamento.
De acordo com Santos, a elevação registrada no projeto da CAP S/A é algo surreal. “Se a obra fosse pública seria inaceitável. Faria exigências muito fortes ao projeto apresentado”, diz o professor, que trata a reforma da Arena como privada.
Segundo contrato tripartite, dois terços serão pagos pelos governos municipal e estadual, enquanto um terço cabe ao Atlético. “Apontamos possível situação risco no empréstimo”, reitera Santos. “E agora fica a discussão de quem vai arcar com isso. Se fosse público poderia me manifestar de forma mais aguda”, acrescenta o Ph.D.
A reportagem tentou contato com o secretário municipal da Copa, Reginaldo Cor­­deiro, e com o secretário estadual do Mundial, Mario Celso Cunha. Ambos não atenderam as ligações para comentar o assunto.
Superinflação
Mais cara da história, Copa no Brasil chega à casa dos R$ 8 bilhões
Não é apenas em Curitiba que houve aumento nas contas da Copa do Mundo. Ao todo, nas 12 sedes que constroem ou reformam estádios para o Mundial de 2014, os valores chegaram à casa dos R$ 8 bilhões após quatro reajustes. Isso significa uma elevação de 285% em relação às estimativas de quando o país foi eleito para abrigar o evento, em 2007. A informação é do Portal 2014.
No último mês de abril, a Matriz de Responsabilidade já previa gastos de R$ 7 bilhões.
Depois disso, nas últimas oito semanas, Arena da Baixada, Maracanã, Mané Garrincha e Arena da Amazônia somaram praticamente R$ 1 bilhão de ampliação no orçamento anterior.
Os números colocam o Brasil com ampla margem no topo da lista do quesito na história das Copas. Em 2006, na Alemanha, o custo foi de R$ 3,27 bilhões para dez arenas, enquanto na África do Sul, que levantou 12 estádios para o Mundial de 2010, o total foi de R$ 3,6 milhões.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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