sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Morales aciona a Interpol para prender e extraditar Molina.

Presidente da Bolívia pediu à entidade uma notificação para que o senador Roger Molina, culpado por corrupção, retorne ao país.

Heinz-Peter Bader/Reuters
Heinz-Peter Bader/Reuters / Presidente Morales vai discutir o caso Molina com Dilma na cúpula da Unasul, no Suriname
Presidente Morales vai discutir o caso Molina com Dilma na cúpula da Unasul, no Suriname
A Procuradoria-Geral da Bolívia solicitou à Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) a emissão de um alerta de prisão contra o senador Roger Pinto Molina. Adversário de Evo Morales, Molina chegou a Brasília após operação organizada por um diplomata brasileiro.
Pinto Molina estava abrigado na embaixada brasileira em La Paz até a última sexta-feira, quando deixou o país por terra em carro diplomático brasileiro que o levou até Corumbá (MS). A operação foi organizada pelo encarregado de negócios do Brasil na Bolívia, Eduardo Saboia, que comandava a missão diplomática.
O governo brasileiro afirmou que Saboia agiu por conta própria, mas o diplomata afirma que organizou a retirada após o senador ameaçar se suicidar. A retirada do parlamentar causou uma crise diplomática com a Bolívia e a saída de Antonio Patriota do Ministério das Relações Exteriores.
Segundo o procurador-geral interino boliviano, Roberto Ramírez, a solicitação foi enviada após uma “avaliação de todos os processos e mandados de prisão contra o senador Roger Pinto”. A Justiça ordenou sua prisão por quatro crimes, todos relacionados com irregularidades na administração pública.
“Esta pessoa [Molina] tem que responder aos processos de corrupção, por isso são ativados esses mecanismos internacionais para que se tornem efetivas as ordens de prisão, este é o trâmite que se segue sempre que uma pessoa se declara rebelde”, disse Ramírez.
O documento pedido pelo governo boliviano é a notificação vermelha, uma solicitação válida para todos os países integrantes da Interpol para que o suspeito seja identificado e localizado para prisão preventiva e extradição no país onde ele está.
Roger Pinto Molina pediu abrigo à embaixada brasileira em La Paz em 28 de maio de 2012 e ficou no local por 455 dias, argumentando que sofria perseguição política. Em agosto do ano passado, o governo brasileiro deu asilo diplomático ao senador, mas este não recebeu o salvo-conduto para vir ao Brasil.
Os presidentes Evo Mora­les e Dilma Rousseff se reunirão hoje no Suriname, onde vão participar da Cúpula da Unasul, para buscar uma solução para o caso Molina.
“Sobrou para todo mundo”, diz publicação
Agência Estado
O incidente diplomático que derrubou Antonio Patriota do cargo de ministro de Relações Exteriores é destaque na edição da revista britânica The Economist que chegou às bancas ontem. Com o título “Diplomacia freelance”, a publicação diz que “sobrou para todo mundo” do episódio de fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil.
Para a revista, o problema da diplomacia não foi resolvido com a troca de nomes no cargo e ela tem pouco efeito na política externa brasileira. Mesmo sem ser ministro, Marco Aurélio Garcia continua controlando a relação do Brasil com a América Latina, o que é classificado pela Economist como “um comando de duas cabeças”.
A reportagem afirma que, a despeito da fama de o Itamaraty contar com os diplomatas mais profissionais da América Latina, o Brasil protagonizou um “incidente extraordinário”.
Sem autorização superior, a operação custou o cargo de Patriota e, para o governo brasileiro, não deveria ter sido realizada sem o salvo-conduto emitido por Evo Morales.
“A voz decisiva nas relações com a América Latina não era do senhor Patriota, mas de Marco Aurélio Gar­cia, um nome do PT que tem atuado como assessor presidencial de política externa tanto para Lula quanto para a senhora Rousseff”, afirmou a revista The Economist, finalizando: “Esse comando de duas cabeças é o cerne do problema”.
Participante
Senador brasileiro que ajudou na escapada se explica para comissão
Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) deu explicações ontem aos integrantes da comissão sobre sua participação na escapada do senador boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil. Responsável por transportar Molina de Corumbá (MS) até Brasília, Ferraço defendeu a operação ao afirmar que a vida do parlamentar “estava em jogo” e que o Itamaraty havia tomado a decisão política de não pressionar a Bolívia para autorizar sua saída do país.
“Era uma situação limite que não poderia continuar a ser tratada conforme ritmos e cânones diplomáticos, ao sabor das conveniências políticas, tornando-se apenas um item a mais da nossa agenda bilateral, sempre sujeita, durante mais de um ano, a ceder preferência para outras questões”, disse Ferraço.
O senador afirmou que o Itamaraty agiu com “indiferença” no caso, que resultaria na morte de Molina se ele não fosse retirado da Embaixada do Brasil em La Paz – onde estava asilado há 455 dias.
“A outra alternativa de desfecho para a grave situação seria a sua morte, através de um enfarte ou mesmo de um derrame ou, quem sabe, até mesmo de um suicídio”, disse.
Corrupção
As autoridades bolivianas acusam Roger Pinto Molina de corrupção em vários processos, o que o político sempre negou. A promotoria lembrou que o senador foi condenado a um ano de prisão por um tribunal boliviano que o declarou culpado de danos econômicos ao Estado estimados em US$ 1,7 milhão (R$ 4,08 milhões).
28 de maio de 2012 foi quando o senador Roger Pinto Molina entrou na embaixada brasileira em La Paz pedindo abrigo. Ele ficou no local por 455 dias, argumentando que sofria perseguição política. Em agosto do ano passado, o governo brasileiro deu asilo diplomático ao senador, mas este não recebeu o salvo-conduto para vir ao Brasil.
Fonte: FolhaPress

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