Procura por cirurgia bariátrica cresceu 4,5 vezes na última década. Redução da idade mínima para realizar o procedimento deve incrementar índice.
Albari Rosa/Gazeta do Povo
Autoestima em alta: Joana Muniz pesava 120 quilos fez redução de estômago aos 29 anos. Hoje, a balança acusa 62 quilos
Nos últimos 10 anos, a procura por cirurgia bariátrica cresceu 4,5 vezes. O total de procedimentos passou de 16 mil para 72 mil entre os anos de 2003 e 2012. A tendência é que esse número aumente ainda mais com a nova portaria do Ministério da Saúde, que reduziu de 18 para 16 anos a idade mínima para realizar a cirurgia de redução de estômago.
A iniciativa foi tomada com base em estudos que apontam o aumento da entre os adolescentes, como a Pesquisa de Orçamento Familiar de 2009 (POF). De acordo com o estudo, 21,7% dos brasileiros entre 10 e 19 anos apresentavam excesso de peso. Em 1970, esse percentual era de 3,7%.
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Almino Cardoso Ramos, a indicação de operação bariátrica para adolescentes é acertada, mas deve ser encarada como último recurso para o emagrecimento. “São casos de exceção quando o adolescente, na faixa de 150 quilos a 160 quilos, já passou por todas as alternativas clínicas, como endocrinologia, nutricionista, psicólogo, e não obteve êxito”, explica Ramos.
O cirurgião bariátrico João Henrique Felício de Lima também concorda com a redução da idade mínima para a cirurgia. “Percebemos que a obesidade já atinge a infância causando hipertensão e intolerância à glicose. Se existe inadequada resolução da obesidade com as tentativas de tratamento clínico, não vejo motivos para aguardar até a maioridade para trazer os benefícios que a cirurgia proporcionará”, salienta.
Cuidados
Alguns cuidados são considerados essenciais para que a cirurgia bariátrica seja realizada em adolescentes. O primeiro requisito é que o Índice de Massa Corporal (IMC) seja acima de 35; e que existam doenças associadas, como colesterol, apneia do sono, câncer ou hipertensão arterial. Abaixo desse patamar, a cirurgia não está autorizada pelo Ministério da Saúde.
“A cirurgia ocorre como último recurso, após um tratamento prévio”, destaca a endocrinologista e cirurgiã bariátrica, Solange Bettini. O médico Marcos Cury Neubauer demonstra preocupação com a nova idade mínima para a redução de estômago. Isso porque nem todas as pessoas entre 16 a 18 anos já apresentam crescimento ósseo completo e a cirurgia bariátrica pode impactar no desenvolvimento do indivíduo. “Ao reduzir o estômago, o paciente terá uma redução de absorção de nutrientes que pode prejudicar a fase de crescimento”, avisa.
• 75% das cirurgias bariátricas são feitas por videolaparoscopia, técnica considerada menos invasiva, em que se introduzem câmeras no abdômen do paciente para auxiliar a operação. A técnica ainda não é realizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
• Contra- indicações: além do cuidado com a maturidade óssea do paciente, entre os aspectos observados para decidir pela cirurgia está a associação com doenças psiquiátricas, como esquizofrenia, e dependência de drogas e álcool.
IMC
A obesidade é determinada pelo Índice de Massa Corporal (IMC), que é calculado dividindo-se o peso (em quilos) pela altura (em metros) elevada ao quadrado. Veja se você está acima do peso comparando o resultado obtido com os índices abaixo:
>> Menor que 18,5: você está abaixo do peso normal.
>> Entre 18,5 e 24,9: peso normal
>> Entre 25 e 29,9: sobrepeso – recomenda-se fazer exercícios físicos e cuidar da alimentação.
>> Igual ou acima de 30: obesidade. Se exercícios e dieta não funcionarem, a cirurgia bariátrica pode ser indicada.
Cuidados
Procedimento tem riscos e deve ser feito só em último caso
Segundo o médico Marcos Cury Neubauer, a cirurgia bariátrica infere alguns riscos aos pacientes. Os problemas mais comuns são fístula – vazamento do conteúdo do estômago ou do intestino para a cavidade do abdômen – e embolia pulmonar. “O cuidado deve ser total para a realização do procedimento cirúrgico”, salienta. O risco de morte, porém, é considerado baixo: uma para cada 500 pacientes. Antes de ser submetido a uma intervenção cirúrgica, o paciente deve tentar outras alternativas. “Quando o resto não surte efeito prolongado, a opção é a cirurgia”, afirma cirurgião bariátrico João Henrique Felício de Lima.
Após cirurgia, Joana perdeu metade do peso
Joana Carla Muniz chegou a pesar 120 quilos. Um ano e meio depois da cirurgia bariátrica, perdeu praticamente metade do peso. A redução de estômago foi realizada quando ela tinha 29 anos. Atualmente, aos 37, mantém a silueta na faixa dos 62 quilos.
“Um ano e meio depois já fiz as cirurgias reparadoras e estabilizei meu peso”, conta.
Ela, que mede 1,63 metros, tinha obesidade mórbida. Sem autoestima, seu dia a dia era ficar em casa cuidando das duas filhas.
Cinco anos depois da intervenção cirúrgica, tornou-se representante no Paraná de duas grifes de roupas femininas e até chega a participar de alguns desfiles. “Minha vida agora é outra. O que eu ia fazer pesando 120 quilos?”, indaga.
Quem também encarou a mesa de cirurgia e viu resultado foi Guilherme Baron, que deixou a vida com 133 quilos para trás – atualmente pesa 74 quilos. Hoje, ele é um assíduo atleta. “Participei de diversas provas e cheguei a participar da meia-maratona de Paris”, ressalta. “Não existe gordo que vira magro. E sim o ex-gordo”, brinca.
Fonte: Jornal Gazeta do Povo
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