segunda-feira, 11 de junho de 2012

Olhar atento para os males da cidade.

Cidadãos comuns trabalham como verdadeiros fiscais, registrando e denunciando os problemas que observam nas ruas de Curitiba.

Gilberto Yamamoto / Gazeta do Povo
Gilberto Yamamoto / Gazeta do Povo /

Todos os dias, Curitiba é vigiada por um batalhão de fiscais anônimos. Com câmeras e celulares a tiracolo, eles registram os problemas que encontram na cidade, “postam” as imagens na internet e sempre que possível ligam para o telefone 156 da prefeitura.
O engenheiro João Carlos Cascaes, de 67 anos, é um deles. Ele não dispensa a máquina fotográfica quando sai de casa. É sua ferramenta para abastecer uma rede de 60 blogs com flagrantes e artigos. “Virei um ativista social”, conta.

Ex-presidente da Copel e ex-diretor de Planejamento da Urbs (Urbanização de Curitiba S/A), Cascaes entrou no mundo virtual de brincadeira, “postando” os problemas que via diariamente. Em dois anos, ele já colocou 9 mil vídeos em mídias sociais.
Já o empresário Alir Dou­glas Welnner, 51 anos, não mantém blogs, mas documenta tudo com fotografias. Morador do Centro, percorre diariamente inúmeras ruas até chegar na Cidade Industrial, onde tem uma empresa de equipamentos de segurança. Em suas andanças, Welnner fotografa atos de vandalismo, faixas sem pintura, placas encobertas por árvores, pontos de ônibus que atrapalham a visão do motorista, entre outros problemas. E tudo vira protocolo no 156. “Quem deve cuidar de nós [poder público] não faz seu trabalho porque a engenharia não é aplicada como deveria”, sentencia ele, que também atua como socorrista voluntário em campeonatos automobilísticos.
Há casos que a cidadania já vem de família. Para o advogado Mário Miró, 66 anos, morador da Vila São Paulo, no Uberaba, o fato de ter sido escoteiro e rotariano (membro do Rotary Club) lhe dão a experiência necessária para apontar o dedo e buscar soluções. “Amo a minha cidade. Quando criança andava pela cidade de bicicleta e identificava os problemas.” Hoje, conta com a ajuda da esposa que lhe acompanha com um caderninho de anotações. O que vem lhe atormentando nos últimos meses são as dificuldades do trânsito na Rua Senador Salgado Filho, próximo aos bancos.
O advogado e empresário João Luis Vieira Teixeira, 34 anos, tem dezenas de protocolos abertos na prefeitura nos últimos 12 anos. “Mais de 40, com certeza.” Ciente de que não há agentes da prefeitura em número suficiente, ele acredita que a tarefa de fiscalização também deve ser do morador. Para ele, se cada um cobrar melhorias, toda a cidade se beneficia. “Economizamos verbas públicas evitando acidentes, indenizações e multas”, diz.

Comunidade
Gesto demonstra interesse participativo, mas não pode ser egoísta
Denunciar os problemas da cidade é uma atitude louvável desde que não atenda interesses individuais. Para a cientista política Samira Kauchakje, professora de Gestão Urbana e Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o lado positivo desse gesto é o cidadão se sentir responsável pela cidade e se tornar mais participativo. “Ele transforma-se em controlador das ações de governo”, afirma. No entanto, se as reivindicações forem localizadas, isso demonstra um enfraquecimento do coletivo.
Samira afirma que iniciativas como essa são bem-vindas, mas que é preciso cuidar com os exageros para que esse individualismo não se torne a característica de uma sociedade. É preciso fortalecer as associações sociopolíticas, diz. “É importante incentivar o trabalho das associações de bairro e os conselhos. Historicamente, essa união possui mais efetividade na resolução de problemas.”

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