Evento que marca duas décadas da Eco92 está marcado para junho, no Rio de Janeiro. Possível ausência de chefes de estado pode inviabilizar o comprometimento com políticas públicas.
O Rio de Janeiro se prepara para voltar a ser o centro do mundo nas discussões sobre sustentabilidade. A pouco mais de cem dias do início da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – chamada de Rio+20, numa alusão às duas décadas após a realização da Eco92 –, a cidade quer aproveitar a presença de até 150 países para promover uma festa democrática. De 13 a 22 de junho, a cidade deve receber 50 mil pessoas cadastradas pela ONU e outras milhares de interessadas em discutir os rumos do planeta. Além de uma série de eventos culturais simultâneos, será promovida também uma reunião de cúpula do C-40, o grupo que reúne os prefeitos das maiores cidade do mundo, no Forte de Copacabana.
A agenda oficial da Rio+20 ocorrerá no Riocentro, em Jacarepaguá, mas as ONGs e a sociedade civil devem se concentrar no Aterro do Flamengo e na região do Porto. O diretor do Greenpeace Brasil, Marcelo Furtado, critica a concentração das manifestações da sociedade civil no Aterro do Flamengo, a 37 quilômetros do Riocentro. “Essa distância explicita o que está acontecendo no mundo: governos conversam entre eles e a sociedade dialoga sozinha. Vamos mobilizar a população e defender um Brasil que invista em energias renováveis e não no pré-sal. Não vamos deixar a turma do Riocentro falar para si mesma”, garante.
Falta de metas
A baixa adesão dos chefes de Estado à conferência é uma preocupação das autoridades brasileiras. Dois temas centrais serão discutidos na Rio+20: economia verde/redução da pobreza e governança global ambiental. O presidente do Instituto Brasil Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), Haroldo Mattos de Lemos, teme que a falta de um documento estabelecendo metas para os países esvazie o encontro. “Na Eco92, o conceito de desenvolvimento sustentável foi discutido e aprovado. Dessa vez, a falta de um plano com metas concretas para atingir a sustentabilidade põe em xeque o encontro. Há 20 anos, vieram 112 chefes de Estado. Apesar dos esforços do governo brasileiro, desta vez a crise global deve minar a adesão dos líderes”, pondera.
O prefeito Eduardo Paes afirma que, durante o encontro, a cidade não vai vender ao mundo a imagem de metrópole sustentável, mas de um centro que está no rumo certo para resolver antigos passivos ambientais. Quanto aos transtornos no trânsito, Paes diz que eles serão inevitáveis: “Vamos ter algum transtorno. Mas o Rock in Rio não foi o caos que todos imaginavam”, diz. Metade do orçamento geral para o encontro – são previstos R$ 430 milhões do governo federal – vai para segurança.
País será avaliado por 20 anos de estagnação
Katia Brembatti
Ambientalistas que viveram a efervescência cultural que marcou a realização da Eco92, no Rio de Janeiro, há duas décadas, esperam que a Rio+20 represente o avanço na busca por resultados objetivos. “Abriu-se uma vitrine de um mundo novo e logo em seguida essas cortinas se fecharam. E nada daquilo que foi discutido e proposto aconteceu”, lamenta o consultor ambiental Francisco Lange, acrescentando que a Eco92 foi uma experiência única na vida dele. Lange avalia que na Rio+20 será possível fazer um balanço do que deixou de ser feito para proteger a relação do homem com a natureza.
O consultor espera a discussão de novos paradigmas ambientais e o reconhecimento de alguns fracassos dos últimos 20 anos. “Hoje temos muitos mecanismos de gestão ambiental que não tínhamos em 92”, salienta. Sobre a relevância do encontro que será realizado no Brasil, Lange revela que em comparação com outros eventos muito específicos, que tratam do uso da água ou de mudanças climáticas, a Rio+20 trabalha numa visão mais ampla e integral. “O país tem condições de assumir uma posição de protagonismo. Tem quadros técnicos e características naturais para isso. O que nós não temos é decisão de políticas sérias”, analisa.
Pressão política
Diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani também esteve presente na Eco92. “O Brasil está correndo o sério risco de fazer feio na frente dos estrangeiros, principalmente depois que deixou correr frouxo o encaminhamento sobre o novo Código Florestal”, avalia. Para ele, na agenda de prioridades da presidente Dilma Rousseff, a questão ambiental ainda não marcou presença.
Mantovani também acredita que o país pode ser questionado pelo orçamento baixo do Ministério do Meio Ambiente – que está entre os menores no governo federal. O ambientalista acredita que a temida ausência de autoridades estrangeiras na Rio+20 é reflexo da falta de empenho do governo brasileiro. “Quem convoca chefe de estado é o governo. O tema ajuda, mas precisa postura política”, enfatiza.
Mas o clima não é de todo pessimista. O ambientalista ressalta que boa parte das discussões ecológicas do mundo surgiu a partir da Eco92 e que os brasileiros passaram a ocupar cargos importantes em agências das Nações Unidas. “É hora de propor um novo pacote. Tudo que está sendo debatido nasceu aqui e podemos tomar a frente mais uma vez. Mas precisamos assumir uma postura. Hoje, da forma como está, o Brasil é o anfitrião, mas está entrando nessa conferência pela porta dos fundos”, avalia.
Fonte: Agência O Globo
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