quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Brasil tem nova chance de ser exemplo verde.

Evento que marca duas décadas da Eco92 está marcado para junho, no Rio de Janeiro. Possível ausência de chefes de estado pode inviabilizar o comprometimento com políticas públicas.

O Rio de Janeiro se prepara para voltar a ser o centro do mundo nas discussões sobre sustentabilidade. A pouco mais de cem dias do início da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Susten­­tável – chamada de Rio+20, numa alusão às duas décadas após a realização da Eco92 –, a cidade quer aproveitar a presença de até 150 países para promover uma festa democrática. De 13 a 22 de junho, a cidade deve receber 50 mil pessoas cadastradas pela ONU e outras milhares de interessadas em discutir os rumos do planeta. Além de uma série de eventos culturais simultâneos, será promovida também uma reunião de cúpula do C-40, o grupo que reúne os prefeitos das maiores cidade do mundo, no Forte de Copacabana.
A agenda oficial da Rio+20 ocorrerá no Riocentro, em Jaca­­repaguá, mas as ONGs e a sociedade civil devem se concentrar no Ater­­ro do Flamengo e na região do Por­­to. O diretor do Greenpeace Bra­­sil, Marcelo Furtado, critica a concentração das manifestações da sociedade civil no Aterro do Fla­­mengo, a 37 quilômetros do Rio­­cen­­tro. “Essa distância explicita o que está acontecendo no mundo: governos conversam entre eles e a sociedade dialoga sozinha. Vamos mobilizar a população e defender um Brasil que invista em energias renováveis e não no pré-sal. Não vamos deixar a turma do Riocentro falar para si mesma”, garante.
Falta de metas
A baixa adesão dos chefes de Estado à conferência é uma preocupação das autoridades brasileiras. Dois temas centrais serão discutidos na Rio+20: economia verde/redução da pobreza e governança global ambiental. O presidente do Instituto Brasil Pnuma (Progra­­ma das Nações Unidas para o Meio Ambiente), Haroldo Mattos de Le­­mos, teme que a falta de um documento estabelecendo metas para os países esvazie o encontro. “Na Eco92, o conceito de desenvolvimento sustentável foi discutido e aprovado. Dessa vez, a falta de um plano com metas concretas para atingir a sustentabilidade põe em xeque o encontro. Há 20 anos, vieram 112 chefes de Estado. Apesar dos esforços do governo brasileiro, desta vez a crise global deve minar a adesão dos líderes”, pondera.
O prefeito Eduardo Paes afirma que, durante o encontro, a cidade não vai vender ao mundo a imagem de metrópole sustentável, mas de um centro que está no rumo certo para resolver antigos passivos ambientais. Quanto aos transtornos no trânsito, Paes diz que eles serão inevitáveis: “Vamos ter algum transtorno. Mas o Rock in Rio não foi o caos que todos imaginavam”, diz. Metade do orçamento geral para o encontro – são previstos R$ 430 milhões do governo federal – vai para segurança.
País será avaliado por 20 anos de estagnação
Katia Brembatti
Ambientalistas que viveram a efervescência cultural que marcou a realização da Eco92, no Rio de Janeiro, há duas décadas, esperam que a Rio+20 represente o avanço na busca por resultados objetivos. “Abriu-se uma vitrine de um mundo novo e logo em seguida essas cortinas se fecharam. E nada daquilo que foi discutido e proposto aconteceu”, lamenta o consultor ambiental Francisco Lange, acrescentando que a Eco92 foi uma experiência única na vida dele. Lange avalia que na Rio+20 será possível fazer um balanço do que deixou de ser feito para proteger a relação do homem com a natureza.
O consultor espera a discussão de novos paradigmas ambientais e o reconhecimento de alguns fracassos dos últimos 20 anos. “Hoje temos muitos mecanismos de gestão ambiental que não tínhamos em 92”, salienta. Sobre a relevância do encontro que será realizado no Brasil, Lange revela que em comparação com outros eventos muito específicos, que tratam do uso da água ou de mudanças climáticas, a Rio+20 trabalha numa visão mais ampla e integral. “O país tem condições de assumir uma posição de protagonismo. Tem quadros técnicos e características naturais para isso. O que nós não temos é decisão de políticas sérias”, analisa.
Pressão política
Diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani também esteve presente na Eco92. “O Brasil está correndo o sério risco de fazer feio na frente dos estrangeiros, principalmente depois que deixou correr frouxo o encaminhamento sobre o novo Có­­digo Florestal”, avalia. Para ele, na agenda de prioridades da presidente Dilma Rousseff, a questão ambiental ainda não marcou presença.
Mantovani também acredita que o país pode ser questionado pelo orçamento baixo do Ministério do Meio Ambiente – que está entre os menores no governo federal. O ambientalista acredita que a temida ausência de autoridades estrangeiras na Rio+20 é reflexo da falta de empenho do governo brasileiro. “Quem convoca chefe de estado é o governo. O tema ajuda, mas precisa postura política”, enfatiza.
Mas o clima não é de todo pessimista. O ambientalista ressalta que boa parte das discussões ecológicas do mundo surgiu a partir da Eco92 e que os brasileiros passaram a ocupar cargos importantes em agências das Nações Unidas. “É hora de propor um novo pacote. Tudo que está sendo debatido nasceu aqui e podemos tomar a frente mais uma vez. Mas precisamos assumir uma postura. Hoje, da forma como está, o Brasil é o anfitrião, mas está entrando nessa conferência pela porta dos fundos”, avalia.

Fonte: Agência O Globo

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