terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Com 16% mais passageiros, aeroportos enfrentarão caos.

 Crescimento natural do setor, aliado a paralisações devido às obras da Copa, deve causar problemas a passageiros nas festas de fim de ano e nas férias.

Fotos: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
          Fotos: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo / Grande movimento ontem no aeroporto de São José dos Pinhais: aumento de 23% no número de passageiros em relação a 2010
Grande movimento ontem no aeroporto de São José dos Pinhais: aumento de 23% no número de passageiros em relação a 2010

Quem pretende viajar de avião neste fim de ano deve esperar terminais cheios e uma boa dose de estresse. No último balanço divulgado pela Infraero, com dados de operações feitas de janeiro a outubro, o número de passageiros chegou a 148 milhões de pessoas em todo o Brasil, somados voos nacionais e internacionais. No mesmo período de 2010, o movimento foi de 127 milhões, um crescimento de 16%. Caso este ritmo continue, as épocas de Natal, ano-novo e férias de janeiro devem levar os aeroportos a um cenário caótico.

No Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, o aumento no fluxo de passageiros em relação ao ano passado foi ainda mais expressivo: 23% mais passageiros do que naquele período. Em 2010, 4,7 milhões haviam passado pelo terminal de passageiros até outubro. Já em 2011, foram 5,8 milhões, embora a infraestrutura do local tenha permanecido a mesma ou até mesmo piorado temporariamente: em obras para a ampliação do estacionamento, o aeroporto sofreu restrições relativas aos horários dos voos.

O cenário mais otimista a partir de dezembro é de um aumento de apenas 10% em relação ao período normal, de acordo com estimativas do professor de Transporte Aéreo da Universidade Tuiuti do Paraná Mauro Martins. Ele afirma que medidas já começaram a ser tomadas para mitigar os transtornos, como a permissão do compartilhamento de check-in entre companhias aéreas e a diminuição do espaço para pousos entre as aeronaves de 12 km para 7 km já a partir de janeiro. Segundo ele, essas medidas ainda não são suficientes para atender adequadamente à demanda.

            / Obras da Copa restringiram alguns horários de voos no Aeroporto Affonso Pena e, a partir do próximo dia 22, as obras serão interrompidas: medidas para tentar evitar novo caos aéreo
Obras da Copa restringiram alguns horários de voos no Aeroporto Affonso Pena e, a partir do próximo dia 22, as obras serão interrompidas: medidas para tentar evitar novo caos aéreo

“Haverá transtornos neste fim de ano, sem dúvidas. Como os números têm aumentado, certamente este período será ainda pior do que no ano passado”. Para Martins, a ampliação do estacionamento no Affonso Pena – que terá a capacidade dobrada, somando 2,2 mil vagas – ajuda a diminuir o desconforto dos usuários, mas de nada resolve enquanto o terminal de passageiros não for ampliado, assim como o tamanho da pista, que hoje é de cerca de 2,2 mil metros, mas que, segundo ele, deveria ter no mínimo 2,6 mil metros. A primeira obra deve sair em 2013, mas a segunda, não antes de 2017.
Serviços
Na opinião do professor do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná Eduardo Ratton, o atendimento oferecido pelas companhias aéreas também deve ser urgentemente aprimorado. Apesar de proibições impostas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em relação ao overbooking, e da exigência da ocupação total dos guichês em horário de pico, segundo ele nesta época do ano as soluções improvisadas são a regra.
Ratton diz que, apesar de os números mostrarem que o au­­mento do movimento é praticamente certo a cada ano, somente após a notícia de que o país sediaria a Copa do Mundo é que o governo anunciou melhorias em 16 aeroportos ao custo de R$ 7,5 bilhões, assim como no sistema de gestão, que ainda peca pela má administração de recursos. Desde 2010, a Infraero tem gasto menos de 50% do orçamento previsto, de acordo com o Portal Contas Abertas.
No ritmo atual, o país pode enfrentar na Copa um caos semelhante ao ocorrido no fim de 2006, quando o setor entrou em colapso. Em 2014, em um único mês, a estimativa do governo é de que ao menos 500 mil turistas circulem pelos aeroportos, uma situação alarmante, avalia Ratton. “Essas obras previstas para a Copa atendem no máximo ao público interno. Imagine um jogo para o qual venham cinco mil torcedores de fora. Será necessário colocar em operação, além do trânsito normal, mais 100 aviões de 50 passageiros de uma única vez. Haverá um caos”.

Investimento
Focar apenas nos aeroportos não resolve o problema
Embora a necessidade de investimento nos aeroportos seja urgente, priorizar obras neste setor e se esquecer dos demais é contribuir para o caos aéreo. Esta é a opinião do professor da FIA/USP e do curso de pós-graduação em Admi­­nistração de Negócios da UFPR Ramiro Goncalez, que critica a atenção dada ao transporte rodoviário, modal esquecido por gestores e técnicos. “Mais inteligente do ponto de vista estratégico seria direcionar os gastos em ampliação de terminais para o aprimoramento de rodovias, em especial no Paraná, que tem poucas alternativas no deslocamento Curitiba-São Paulo, por exemplo, somente pela BR-116 ou por via aérea”, diz.
Ele ressalta que vale a pena investir nesta opção por ser mais sustentável, causar menos polução e ser mais barata.
No caso de o governo continuar a priorizar o transporte aéreo, o professor afirma que é necessário, ao menos, investir em estacionamentos, em mais linhas de ônibus executivos e na criação de voos diretos para a Europa e EUA.
Fique de olho
Conhecer seus direitos e deveres pode ajudar a minimizar o estresse causado pelo caos aéreo previsto a partir de dezembro:
- Se o voo atrasar em até uma hora, a empresa aérea deve providenciar acesso a internet e telefone. Entre uma e duas horas o usuário tem direito à alimentação. A partir de 4 horas, pode exigir acomodação ou transporte até o hotel
- Em caso de cancelamento, a companhia tem a obrigação de informá-lo ao usuário, que tem direito a reacomodação no próximo voo, com prioridade em relação aos outros passageiros
- Se o voo for cancelado, o reembolso ao usuário é integral, assim como em casos quando o voo atrasa mais de quatro horas. O reembolso deve ser feito em até 30 dias a partir da solicitação
- Em caso de violação de bagagem, o usuário deve informar a companhia aérea. Se houver furto, é preciso registrar boletim de ocorrência na delegacia mais próxima
- Em horário de pico, todos os guichês disponíveis devem estar aptos a atender o usuário e realizar o check-in
- Para otimizar o tempo do check-in, o usuário pode realizá-lo pela internet, no site da companhia aérea
- Em caso de overbooking, o usuário deve ser realocado em outro voo com prioridade decorridas no máximo 4 horas após o horário do voo inicialmente previsto.
- A empresa aérea deve oferecer compensações para os usuários prejudicados, mas esses têm o direito de decidir se desejam aceitá-las ou não.
Fonte: Anac.


Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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