quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ratinho Jr. terá o desafio de convencer a classe média.

Analistas apontam que o deputado mais votado da história do estado terá de vencer as restrições a seu nome caso queira se eleger prefeito de Curitiba.

                                                                        Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
                        Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo / Ratinho Jr.: 2º em pesquisa, mas só o 4º dentre os mais escolarizados
                                Ratinho Jr.: 2º em pesquisa, mas só o 4º dentre os mais escolarizados

Depois de lançar oficialmente sua pré-candidatura à prefeitura de Curitiba no último sábado, o deputado federal Ratinho Jr.(PSC) agora terá o desafio de afastar as restrições do eleitor curitibano das classes média e alta ao seu nome. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, o de­­putado tende a sofrer rejeição de parte expressiva desse eleitorado por estar mais identificado com o segmento popular e por ser filho do apresentador de televisão Ratinho. E isso pode lhe custar caro na campanha.

O cientista político Ricardo Costa Oliveira, da UFPR, afirma que a falta de apoio dentre os formadores de opinião e os segmentos mais politizados será um problema que Ratinho Jr. terá dificuldade em sanar para a eleição do ano que vem – que já tem outros dois pré-candidatos de peso: o prefeito Luciano Ducci (PSB) e o ex-deputado Gustavo Fruet (PDT). “Ele não consegue ainda se posicionar de uma maneira mais ‘vertebrada’ que os outros candidatos, que já possuem apoio de partidos consolidados, de lideranças de associações e de sindicalistas”, acrescenta Oliveira.

Embora Ratinho Jr. tenha sido em 2010 o deputado federal mais votado da história do Paraná, com 358 mil votos, Oliveira acredita que ele terá dificuldades numa eleição para o Executivo. Já para Fabrizio Tomio, também professor de Ciência Política da UFPR, o deputado não pode ser desprezado. “Ele tem um histórico de muitos votos. No mínimo tem condições de ser competitivo”, diz.

Na última pesquisa pré-eleitoral de Curitiba, realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas no fim de abril e início de maio, Ratinho Jr. aparecia em segundo nas intenções de voto, num cenário com o prefeito e Fruet. O pedetista estava com 29,3% das intenções, seguido de Ratinho Jr. com 21,7% e o prefeito em terceiro por 16,3%. No cenário sem Gustavo Fruet, Ratinho aparecia em primeiro lugar, com 30,7% das intenções de voto, tecnicamente empatado com Luciano Ducci (PSB) que tinha 29,2%.

O recorte por escolaridade mostra justamente a dificuldade de Ratinho Jr. obter votos dentre os formadores de opinião. Ele seria o mais votado entre os eleitores que têm o ensino fundamental e médio (37,5% das intenções). Mas fica apenas em quarto entre os eleitores com nível universitário (3,7%).

Para ganhar
Ratinho Jr. refuta a ideia de que sua candidatura seria a terceira força da disputa e que poderia funcionar como fiel da balança, tirando votos de Ducci e Fruet e forçando um segundo turno no qual seu apoio seria decisivo. “Não mancharia meu currículo entrando em uma eleição se não fosse para ganhar”, garante ele.

O parlamentar também discorda de que seu nome seja visto com restrições por eleitores com maior renda e escolaridade. “Quem inventou isso diz uma grande bobagem. Meu números na última eleição provam o contrário.”

Deputado tenta acordo com o PR e o PCdoB
Além de vencer a rejeição do eleitorado mais escolarizado, o deputado federal Ratinho Jr. também terá de montar uma base de apoio mais consistente que seu pequeno partido, o PSC. Ele já confirmou que mantém negociações com o PR e o PCdoB. E diz esperar apoio do governo federal. “Fiz parte do projeto e ajudei as campanhas da ministra Gleisi Hoffmann e da presidente Dilma Rousseff. Minha relação é boa e seria lógico e natural que eu tivesse o apoio do governo.”

O acordo com o PCdoB prevê uma aliança de apoio mútuo nas eleições municipais em 2012. Segundo o parlamentar, em capitais onde o PSC não tivesse candidatura consolidada, apoiaria um candidato do PCdoB e vice-versa. Até agora, o acordo prevê que o PSC apóie as candidaturas do vereador paulistano Netinho de Paula (PCdoB) à prefeitura de São Paulo e da deputada federal Manuela D’Ávila (PCdoB) a prefeitura de Porto Alegre. Em troca, Ratinho Jr. teria o apoio dos comunistas em Curitiba.

Segundo Ratinho Jr., as negociações estão sendo conduzidas pelo presidente nacional do PCdoB, Renato Rebelo, e com o presidente do diretório estadual do Partido Comunista, o vice-prefeito de Foz do Iguaçu, Chico Brasileiro. Brasileiro, no entanto, foi cauteloso e disse que a legenda ainda trabalha com duas opções: formar a chapa com o PSC ou com Gustavo Fruet (PDT). “Qualquer sinalização de tendência para um lado ou para o outro seria precipitada”, diz Brasileiro.

A direção nacional do PCdoB, Manuela d’Ávila e Netinho de Paula foram procurados pela reportagem, mas não responderam aos pedidos de entrevista.

Inibir resistências
Para o cientista político Fabrizio Tomio, da UFPR, a aproximação com o PCdoB pode sinalizar uma mudança de perfil que talvez ajude a inibir a resistência ao nome de Ratinho entre as classes mais politizadas. “Você não reinventa um político do dia para noite. Mas talvez o Ratinho Jr. queira mostrar que a coalizão dele não se limita àquela que o elegeu até agora.”

Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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