terça-feira, 20 de setembro de 2011

Fome maior que o rebanho.

Preços 17% mais caros que os de um ano atrás mostram que a produção pecuária não acompanha o ritmo do consumo.

                                                                                                            Hugo Harada/Gazeta do Povo
              Hugo Harada/Gazeta do Povo / Paraná reduziu o rebanho bovino em 500 mil animais na última década. Soja e cana tomaram espaço das pastagens e a recuperação da pecuária deve levar mais de dois anos
                  Paraná reduziu o rebanho bovino em 500 mil animais na última década. Soja e cana
                  tomaram espaço das pastagens e a recuperação da pecuária deve levar mais de dois anos


Da costela de boi ao peito de frango, a carne está em média 17% mais cara para o consumidor do Paraná do que um ano atrás. O quadro surpreende pelo fato de a criação estadual de aves e suínos ter crescido 80% e 15%, respectivamente, nos últimos dez anos. No caso da produção bovina, houve redução de 5% no rebanho do estado no período. Porém, nem a forte queda nas exportações verificada desde janeiro – e que deve se agravar neste segundo semestre – mostra-se capaz de ampliar a oferta interna e reduzir os preços da carne de boi. Mais que um estímulo à produção, o quadro mostra que a pecuária não acompanhando o ritmo do consumo.

Só a avicultura cresce continuamente, com investimento em criadouros e indústrias, estimulados pelo mercado global. Maior produtor nacional, o Paraná ampliou sua participação na avicultura de 26% para 28% nos últimos três anos, com 1,38 bilhão de abates em 2010, marca que deve ser superada novamente neste ano.

Quadro oposto é verificado na bovinocultura. O rebanho do Paraná foi reduzido em 500 mil cabeças. Conta com 9,3 milhões de animais, conforme cadastro do governo estadual atualizado na campanha de vacinação contra a aftosa de maio. Disparados pela fome do consumidor interno, os abates não caíram na mesma proporção. Pelo contrário, acumulam alta de 75% em dez anos e chegam a 120 mil ao mês.

“De 2002 e 2009, o preço baixo da carne bovina desestimulou a pecuária. Em 2005, a soja valorizada tirou área do pasto. Depois veio a expansão da cana-de-açúcar. Por isso o rebanho encolheu”, avalia o veterinário Fábio Mezzadri, técnico da Seab que monitora a pecuária no estado.

Houve ampliação do abate de fêmeas, o que torna a renovação do rebanho mais demorada, ressalta. Mezzadri diz que a pressão que eleva os preços só será aliviada se a criação de bezerros crescer rapidamente nos próximos dois anos. Em estados como Mato Grosso, Tocantins e Pará, o rebanho vem sendo ampliado.

A queda nas exportações tende a ser revertida. “Como o dólar se valorizou cerca de 10% em uma semana, há perspectiva de melhoria das exportações daqui para frente”, avalia Thomas Kim, diretor de comércio exterior da Associação Brasileira de Frigo­­ríficos (Abrafrigo).

De janeiro a julho, as exportações brasileiras de carne bovina caíram 17% em volume e cresceram 6% em valor. No Paraná, houve queda de 28% e 18% respectivamente. O estado corre o risco de ter o embarque reduzido a zero com o fechamento do JBS Friboi em Maringá, confirmado três semanas atrás. As vendas externas eram de 1,3 mil toneladas ao mês, 1,5% das exportações nacionais. Nem esse quadro foi suficiente para baixar os preços aos consumidores finais.

Aperto dá corda à expansão da criação de frangos no Paraná
O aperto entre oferta e demanda coloca o frango em vantagem sobre o boi e o suíno. En­­­quanto na bovinocultura a ampliação da produção leva ao menos dois anos e na suinocultura, cerca de seis meses, as aves têm ciclo de 40 dias. Com esse diferencial e prevendo aumento da demanda por alimentos em todo o mundo, o setor anuncia uma série de investimentos.

A BR Frango, por exemplo, abriu indústria de ração em agosto em Santo Inácio (Norte do estado) e deve inaugurar dentro de dois meses abatedouro e fábrica de graxarias, com investimento de R$ 100 mi­­­­lhões. Antes mesmo de iniciar o abate – que deve chegar a 420 mil aves ao dia – arranjou cliente para a ração, a Big Frango. A Unifrango, que reúne 17 empresas, abate 2 milhões de frangos por dia e destina 30% da produção para exportação, investe R$ 75 milhões em um centro de armazenagem e distribuição em Apucarana (Norte).

O consumidor brasileiro dá respaldo a esse investimento. Em 2001, consumiu 31,5 quilos de carne de frango. Em 2011, a marca pode chegar a 45 quilos por habitante (+42%). No mesmo período, o boi avançou de 36 para 40 quilos/habitante (11%) e o suíno de 14 para 15 quilos (7%), conforme projeções do setor com base em números das consultorias Cogo e Bigma.

Efeito Rússia ainda intriga suinocultura
O embargo da Rússia imposto há três meses a cerca de 100 frigoríficos brasileiros, 40 do Paraná, não teve o impacto previsto – de so­­­bras domésticas e redução nos preços ao consumidor brasileiro. Principal importador de carne suína paranaense, o país representava 33,5% do mercado externo para a suinocultura do estado e 43% para a nacional. Mas não derrubou as cotações.

“Não estamos conseguindo ligar as oscilações que estão ocorrendo nos preços ao embargo. Três semanas atrás, houve uma queda acentuada. Nos últimos 15 dias, sem que as exportações para a Rússia tenham sido retomadas, os preços começaram a subir de novo”, afirma o presidente da Associação Paranaense de Suinocultores, Carlos Fran­­­cisco Geesdorf.
Na última semana, os líderes do setor tiveram encontro em Foz do Iguaçu e apontaram que parte da carne está chegando à Rússia por meio da Ucrânia. Mesmo assim, em quantidade menor. Segundo dados do governo federal, o número de destinos da carne suína é cada vez maior e a diversificação não se limita à Ucrânia. Por enquanto, o mercado se rege pela especulação e eleva preços quando sente sintomas de falta de carne, conclui Gees­dorf.

O produtor recebe atualmente R$ 2,2 por quilo de suíno em pé no interior do estado e o consumidor paga R$ 15 pelo quilo de lombo em Curitiba. O setor produtivo alega que a renda mal cobre os custos. (JR)

Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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