segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Em busca do bom Português.

Para dar fim ao excesso de erros ortográficos no trabalho, empresas e profissionais procuram cursos de norma culta para quem já saiu da escola.

                                                                          Priscila Forone/Gazeta do Povo
                        Priscila Forone/Gazeta do Povo / Aula de Português em uma escola de idiomas: capacitação linguística
                                Aula de Português em uma escola de idiomas: capacitação linguística

A pesquisa sobre o nível de aprendizagem dos estudantes brasileiros em Língua Portuguesa, recentemente divulgada pelo movimento Todos pela Educação, comprovou em números o que costuma ser amplamente divulgado de forma cômica pela internet. As famosas pérolas em redações de vestibulares e concursos são fruto da falta do domínio da norma culta, um mal do qual apenas 28% dos concluintes do ensino médio estão salvos e que está presente mesmo em ambientes de alto nível social e acadêmico. O problema tem levado empresas e profissionais a buscarem auxílio formal de professores que os ajudem a banir e-mails e relatórios com erros ortográficos.

Disponíveis em algumas escolas de idiomas e em assessorias empresariais, os chamados cursos de português para brasileiros buscam suprir as necessidades de quem admite não se sentir seguro no uso cotidiano da língua. São executivos que ministram palestras, analistas administrativos que enviam dezenas de mensagens eletrônicas diariamente ou mesmo trabalhadores da área operacional que pretendem mudar de área e veem nos lapsos de linguagem uma barreira para o acesso.

Segundo o diretor do Fisk Centro de Ensino, Elvio Peralta, as turmas para o curso foram abertas depois de constatarem, a partir da seleção de funcionários que faziam para a própria escola, que havia um grande número de profissionais no mercado com boa formação técnica, mas que deixavam o Português a desejar. “As carreiras dessas pessoas não decolavam por causa dos problemas com comunicação”, diz.

Eumira Batista, da In Domus, empresa que promove cursos em residências e ambientes corporativos, confirma que há demanda, mas as razões de procura são variadas. “Temos clientes que pedem preparação exclusiva em português para concursos públicos e outros que pretendem melhorar a forma como se comunicam”.

As mudanças que a reforma ortográfica trouxe são outro motivo citado por quem opta voltar aos livros de Português. É o caso da estudante do curso de Direito Camila da Silva Pontes, 20 anos. Ciente do peso que as gafes ortográficas têm na área jurídica, ela se matriculou numa das turmas do Fisk procurando por aulas onde pudesse praticar as novas regras da escrita. “Depois de concluir o ensino médio há muita coisa que a gente acaba esquecendo e agora com a nova ortografia senti que precisava me qualificar”, conta.

Gramática
Embora analistas avaliem as iniciativas de aperfeiçoamento em Língua Portuguesa de forma positiva, a crítica que se faz do mundo acadêmico é a de que essa necessidade não deveria existir para quem concluiu a educação básica. A professora de Linguística Deizi Link, do curso de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, diz que a falta de domínio da língua materna tem muito a ver com falhas na motivação das aulas. “A língua precisa ser concebida e ensinada como identidade do sujeito, meio de manifestação, e não com gramatiquices sem justificativa.”

Para Deizi, o ensino de gramática deve ser apresentado como acessório que sistematiza a fala, mas o foco de uma boa aula de português deveria ser os benefícios sociais da comunicação clara. “Bons professores ensinam os alunos a se expressar com correção e, ao mesmo tempo, com prazer, usando opções estilísticas e objetividade”, diz.

Orientação
Elite acadêmica também erra
Acostumada a atender doutores e mestres de universidades, a editora científica e bióloga Marcia Triunfol Elblink confirma que os lapsos na escrita atingem até mesmo a elite acadêmica no país. Sócia-fundadora da Publicase, primeira empresa no país a prestar assessoria na redação de trabalhos científicos, ela admite que é frequente encontrar falhas graves de concordância e ortografia nas teses que edita. “Há textos escritos de forma tão confusa que não se pode entender a questão que aquele trabalho tenta responder”, diz.

Depois de trabalhar na revista norte-americana Science, Marcia se deu conta da carência que os cientistas brasileiros enfrentavam no auxílio à publicação de seus trabalhos e fundou a Publicase. “Não se dá muita atenção à redação científica nas universidades daqui, mas as instituições que financiam pesquisas são rigorosas na correção dos textos”, explica.

Hoje a Publicase, com sede no Rio de Janeiro, atende instituições de todo o país que contratam seus serviços. Os representantes da empresa também promovem treinamentos e algumas das apostilas usadas nas capacitações estão disponíveis, gratuitamente, no site http://www.publicase.com.br/. (JDL)


Fonte: Jornal Gazeta do Povo
 

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