quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Dólar sobe quase 4% e começa a preocupar.

Oficialmente, governo descarta medidas para conter o avanço das cotações, que pode pressionar a inflação, mas o Banco Central já parou de comprar a moeda.

                                                                                           Lee Jae-Won/Reuters
                        Lee Jae-Won/Reuters / A moeda norte-americana ganhou valor também em relação a moedas fortes: no pregão de ontem, a libra esterlina perdeu 1,39% e o euro, 0,97%
                                A moeda norte-americana ganhou valor também em relação
                                a moedas fortes: no pregão de ontem, a libra esterlina perdeu
                                1,39% e o euro, 0,97%

O dólar teve ontem a maior alta diária desde o auge da crise global, em outubro de 2008. A moeda subiu 3,75%, para R$ 1,858 e acumula alta de quase 17% desde o início de setembro.

Por causa dessa estocada, o Banco Central decidiu não renovar um tipo de contrato de câmbio futuro – o que, na prática, equivale a vender dólar. É a primeira vez que isso ocorre desde o início de 2009. No mercado à vista, porém, o BC ainda não vendeu moeda americana.

Em Washington, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou a adoção de medidas para segurar o dólar. Mas a reportagem apurou que os fortes ganhos da moeda americana já incomodam o governo, por causa do efeito na inflação. Os cálculos variam conforme o analista, mas o fato é que, se o dólar se mantiver no nível atual ou subir ainda mais, a meta de inflação estará ameaçada em 2011 e 2012. Ou seja, o IPCA superará 6,5% no ano.

A decisão do BC de não renovar o equivalente a US$ 2 bilhões dos chamados contratos de swap cambial reverso seria uma sinalização de que a tolerância à alta da moeda americana teria chegado ao fim. Há no mercado quem diga que o governo teria uma meta informal para o dólar, entre R$ 1,65 e R$ 1,85.

Pessimismo
A quarta-feira marcou mais um dia de pessimismo no mercado global, por causa das dúvidas sobre a ajuda financeira à Grécia e da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). A autoridade monetária americana manteve o juro básico inalterado entre zero e 0,5% ao ano, mas anunciou novo programa de recompra de títulos de longo prazo de US$ 400 bilhões. O objetivo é estimular a economia. A medida, no entanto, não animou as bolsas americanas, que já operam com desvalorização.

Na Europa, permanece indefinido o repasse de novos recursos financeiros para “salvar” a Gré­cia, país com uma delicada situação financeira, e que precisa de dinheiro novo do Fundo Monetá­rio Internacional (FMI) e da União Europeia para saldar seus compromissos e evitar um calote.

Profissionais do setor financeiro notam que a forte alta dos últimos dias também deve ser atribuída a um nervosismo dos agentes financeiros. E que parte dessa trajetória também pode ser atribuída à especulação. Os es­trangeiros, que no primeiro semestre tinham apostas recordes na queda do dólar e ajudaram a moeda a cair às mínimas desde 1999, perto de R$ 1,50, agora inverteram a atuação e apostam cada vez mais na alta da moeda norte-americana.

Uma parcela do mercado ainda avalia que a taxa cambial deve voltar para patamares mais baixos nos próximos meses. “Está todo mundo gritando ‘fogo’ agora, mas em algum momento esse dólar vai ter de voltar a refletir os fundamentos [da economia]”, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. Mas, assim como outros especialistas, ele não descarta um cenário em que o dólar oscile nos níveis de R$ 1,90 ou R$ 2 nos próximos meses, por conta do “mo­­mento excepcional” da economia externa. E que os fundamentos podem levar ainda alguns meses para “fazer efeito”.

Fonte: Jornal Gazeta do Povo/Agências

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