terça-feira, 27 de setembro de 2011

Cientista brasileiro desenvolve droga que controla o autismo.

A solução para a síndrome de Rett veio por meio de uma droga que amplia a presença de insulina nas células doentes.

O controle do autismo, problema que se caracteriza pela disfunção no desenvolvimento psiconeurológico, social e lingüístico, pode estar próximo. Cientistas estão testando uma droga capaz de "consertar" a síndrome que atinge cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas. A previsão é do biólogo brasileiro e professor da faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia Alysson Muotri.

Uma das principais autoridades no estudo do autismo no mundo, Muotri publicou em novembro do ano passado um artigo na revista científica "Cell", em que demonstra como ele e sua equipe conseguiram consertar neurônios afetados pela Síndrome de Rett, uma das formas graves de autismo e que provoca várias complicações neurológicas.

A solução para o Rett veio por meio de uma droga que amplia a presença de insulina nas células doentes. O trabalho de Muotri repercutiu no mundo acadêmico e lançou esperanças de que seria possível, com o mesmo fármaco, tratar outras formas de autismo. O cientista fez palestra ontem em São Paulo, promovida pela ONG Autismo e Realidade, para estudantes, médicos e pais de autistas, e disse que é exatamente nisso que a sua equipe está trabalhando agora. "Saímos do Rett e estamos lidando com o autismo de origem desconhecida, em que a gente não tem noção do que está acontecendo geneticamente. Tudo que conseguimos fazer com o Rett, até agora, reproduzimos com o autismo", comentou.

Segundo o pesquisador, há muita semelhança entre os neurônios afetados pela Síndrome de Rett e pelo autismo clássico. As células, em ambos os casos, têm morfologias semelhantes. "São células menores, com arborizações e número de sinapses (conexões) reduzidas", explicou.

O medicamento desenvolvido para controlar Rett já vem sendo testado por outras equipes de pesquisadores em pacientes comprometidos pelo autismo nos Estados Unidos e na Itália. "Ela ainda causa muitos efeitos colaterais mas, no equilíbrio de prós e contras, decidiu-se usá-la. Agora a evolução desses pacientes está sendo acompanhada", comentou o cientista.

De acordo com Muotri, o medicamento se mostrou eficaz em laboratório, mas ninguém pode garantir agora que vai recuperar o cérebro de pessoas afetadas pelo autismo, e afirmou que o fármaco precisa ser aprimorado. Ainda são necessários testes de validações e ensaios de toxicidade. Isso pode levar dez anos, diz o pesquisador. "Encontramos uma combinação capaz de reverter e consertar a célula em nível sináptico, fazendo com que o neurônio autista se comportasse normalmente. Sou um cético, nem eu acreditaria no começo da pesquisa, mas meus dogmas vêm sendo colocados à prova porque temos um modelo em laboratório que funciona", acrescentou.

Fonte: Agência O Globo

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