domingo, 31 de julho de 2011

Ginástica mobiliza escola carente no Campo do Santana.

Projeto de escola municipal reúne 200 meninas para aprender esporte. Mesmo sem estrutura ideal, grupo já colhe os frutos e se apaixona pela modalidade.

                                                                                                  Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
             Daniel Castellano/ Gazeta do Povo /  Ginásio de Educação Física se transforma, diariamente, em área de treino de GR, com ajuda das alunas da Escola Helena Kolody
                 Ginásio de Educação Física se transforma, diariamente, em área de treino de GR, com
                 ajuda das alunas da Escola Helena Kolody

No tapete do ginásio de esportes, a garota ensaia a série de dança, embalada pelo ritmo que ecoa do som posicionado perto dos professores. Durante os cerca de 90 segundos de apresentação, uma câmera registra todos os movimentos em busca dos detalhes que ainda precisam ser acertados.
Enquanto isso, fora do tapete, dez meninas, com não mais de 1,40 m de altura, unem forças para carregar um grande colchão de ginástica para dentro do colégio. O esforço não deixa ninguém de cara feia. Todas estão animadas depois de mais um dia de atividades.

Assim são os treinos da equipe de ginástica rítmica da Escola Municipal Helena Kolody, no afastado bairro do Campo do Santana, em Curitiba. A equipe se prepara para a disputa do Campeonato Paranaense pré-infantil e infantil – entre 9 e 11 anos – que começa a ser disputado na próxima quinta-feira, no Ginásio do Tarumã.

Catorze atletas vão participar da competição, frutos de um projeto que começou na escola em 2007. “Naquele primeiro ano, atendíamos as meninas apenas aos sábados. Depois, conseguimos transformar o projeto da ginástica em uma atividade do contraturno do colégio”, conta um dos professores da modalidade, Robson Machado.

Hoje, cerca de 200 alunas praticam ginástica rítmica na escola. O projeto só cresceu por vontades individuais: dos professores em dedicar tempo extra, além das atividades da escola, e das meninas, que adotaram a escola como um lugar maior do que apenas para aprendizado.

Do total, 35 meninas fazem parte da equipe que participa de competições. Quando os colegas aproveitavam as férias, elas iam para a escola em dois turnos para refinar os movimentos com maças, fitas, bolas, arcos e cordas.

O esforço é conjunto para se superar os obstáculos que aparecem durante a preparação das atletas, afinal, o ambiente de treino é uma escola e não um ginásio com fins esportivos. “Precisamos de aparelhos, que são caros. Alguns vêm por doação; outros conseguimos via Lei de Incentivo ao Esporte do município. Muitos equipamentos somos nós mesmos [professores e alunas] que compramos”, relata Machado.

“Dividimos o espaço com as aulas de Educação Física da es­­cola. Então, todos os dias, levamos e trazemos os aparelhos que usamos”, complementa outra professora do projeto, Nátia Miguel da Silva.

E os resultados estão aparecendo. A equipe do Helena Kolody já é campeã interescolar de 2009 e ficou em segundo lugar, por conjunto, em um torneio nacional da modalidade, disputado neste ano em Forta­­le­­za.

Com a GR, muitas meninas tiveram oportunidade de conhecer lugares que provavelmente levariam mais tempo para visitar. “Em Fortaleza, tinha meninas que viram o mar pela primeira vez”, conta a professora.

“Tudo começou como hobby, eu gostei bastante e depois ficou mais sério”, diz Eva Paz, de 15 anos, campeã paranaense adulta nível 2 (espécie de Segunda Divisão) em 2011. “Eu nem sabia como era o esporte, mas experimentei, gostei e hoje me esforço bastante”, conta Emilly Matos, 10 anos, que, graças à ginástica, conseguiu uma bolsa de estudos em um colégio particular da cidade.

O campeonato estadual é mais uma chance para as meninas provarem que o que era uma brincadeira virou coisa séria. Aliás, em uma modalidade em que com 15 anos as meninas são consideradas adultas, a maturidade tem de ser antecipada. “Elas se sacrificam desde pequenas, mas tudo passa a valer a pena quando a gente vê o desenvolvimento não apenas no esporte, mas também na formação pessoal dessas meninas”, afirma Nátia.

Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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