quinta-feira, 28 de abril de 2011

Energético e álcool, uma mistura perigosa.

Associação entre as duas substâncias estimula a dependência e acelera a destruição de células cerebrais. O problema é a cafeína.

                          Hedeson Alves/ Gazeta do Povo / Médicos afirmam que energético mascara efeitos da bebida alcoólica
                                   Médicos afirmam que energético mascara efeitos da bebida alcoólica


A mistura entre bebida alcoólica e energéticos, comum em bares frequentados por jovens, é mais prejudicial do que quando se consome apenas álcool. O problema é a presença de cafeína, que oculta os efeitos do álcool e leva a pessoa a beber mais. O gosto forte de algumas bebidas destiladas, como uísque e vodca, por exemplo, é mascarado pela substância. Pes­quisadores brasileiros mostraram que a associação entre as duas substâncias estimula a dependência e acelera a destruição de células cerebrais.

O álcool é um depressor e após ingerir uma dose começam os primeiros sintomas de relaxamento e sonolência. A cafeína, por outro lado, é um estimulante e causa uma sensação de euforia e excitação. A união entre os dois faz o usuário não sentir as consequências da ingestão alcoólica. É como se o corpo ficasse preparado para mais doses. Com a redução do efeito sedativo, a pessoa fica apta a beber por mais tempo e não percebe a embriaguez.

Nos EUA, fabricantes de bebidas energéticas ganharam um ultimato do governo para mudar a fórmula de seus produtos. Lá, os energéticos já contêm álcool e altas doses de cafeína. Há produtos que chegam a ter 500 mg de cafeína, o dobro da indicação diária. Além da alta concentração desta substância, a porcentagem de álcool é maior que em outras bebidas, fazendo com que jovens tenham alterações comportamentais com apenas uma lata.

Alcoolismo
Pesquisadores brasileiros foram pioneiros ao apontar os malefícios desta associação. Em 2006 investigadores da Universidade Federal Paulista (Unifesp) publicaram um artigo na revista Alcoholism: Clinical & Experimental Research mostrando que a cafeína estimula o consumo de mais álcool e mascara os efeitos depressores. A publicação revelou que os entrevistados sentiam menos dor de cabeça, fraqueza e boca seca ao ingerir os energéticos. Entretanto, a coordenação motora era afetada.

A pesquisadora Maria Lúcia Souza-Formigoni, Ph.D. em Psiquiatria, coordenadora do estudo, argumenta que a grande questão é que o energético aumenta a palatabilidade da bebida alcoólica. “O jovem não está acostumado com o sabor do uísque e com o energético a ingestão é facilitada.”

Algumas pesquisas sugerem que o uso desta combinação pode facilitar o alcoolismo, já que o indivíduo se acostuma a beber regularmente e geralmente tem uso abusivo. Maria Lúcia afirma que há dois momentos na vida dos jovens em que a bebida está mais presente. A primeira é entre 13 e 15 anos, quando há a passagem para o ensino médio, e a segunda na passagem para a universidade. Principalmente nestes momentos a associação com energéticos pode definir o abuso e a dependência do álcool.

Professora livre docente do Departamento de Darmacologia da Unifesp, Soraya Smaili liderou uma pesquisa sobre o efeito da mistura entre álcool e energéticos no sistema nervoso central. O resultado foi que a associação pode ser até três vezes mais prejudicial. Nos testes realizados por ela, após 24 horas 60% das células cerebrais expostas à mistura estavam mortas.

Soraya afirma que pesquisadores temem o fato de tanto o álcool como a cafeínas serem vendidos quase indiscriminadamente. O álcool, mesmo restrito a maiores de idade, é facilmente comprado por qualquer pessoa. Em relação aos energéticos, não há nenhum tipo de restrição.

  • Saiba mais

  • Veja quanto contém de cafeína em cada bebida


  • Fonte: Jornal Gazeta do Povo

     

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