quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Calote na compra do carro dispara e crédito tem corte.

Mesmo após o fim de medidas restritivas no ano passado, bancos estão bem mais cautelosos na hora de emprestar para a aquisição de veículos.

Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo / Mesmo sem as restrições que o governo havia imposto às vendas de carros novos, financeiras e bancos vinculados às montadoras seguem mais cautelosos
Mesmo sem as restrições que o governo havia imposto às vendas de carros novos, financeiras e bancos vinculados às montadoras seguem mais cautelosos
A inadimplência na venda de veículos dobrou no último ano. O número de consumidores que não conseguiram pagar suas prestações aumentou de 2,5% para 5% entre 2010 e 2011, segundo dados do Banco Central. Trata-se do maior índice desde agosto de 2008, o que já leva os bancos das montadoras e financeiras a endurecer a concessão do crédito.
O índice de aprovação de cadastro dos clientes caiu pela metade – era de 90% há um ano e hoje está em 45% dos pedidos –, segundo estimativa da Fede­ração Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabra­ve) no Paraná. “Os bancos estão mais criteriosos, aumentaram o nível de exigências e estão analisando melhor a capacidade de pagamento do cliente”, diz Luis Antonio Sebben, diretor da Fenabrave no Paraná.

A taxa de inadimplência disparou como reflexo do crescimento no ritmo das compras da classe média, e se concentrou entre os clientes com renda entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, de acordo com a Associação Nacional das Em­­presas Financeiras das Montado­ras (Anef).
Segundo Décio Carbonari, presidente da entidade, pelo menos dois fatores contribuíram para o aumento do calote. Pri­meiro, a inflação alta comprometeu a renda ao longo de 2011. Para uma pessoa com renda de R$ 3 mil, a inflação – que bateu 7,5% em setembro (no acumulado de 12 meses) – “levou” pelo menos R$ 200 da renda. “Em segundo lugar, houve a limitação do acesso ao empréstimo consignado, por sua vez, que era um recurso usado pela nova classe média para se reorganizar financeiramente. Esse tipo de recurso ficou mais restrito depois das medidas macroprudenciais adotadas pelo governo no fim de 2010”, lembra Carbonari.
Porém, mesmo com a retirada, pelo governo, das medidas macroprudenciais adotadas no fim de 2010 – que na prática restringiam o crédito e o prazo para a compra de veículos –, os bancos não estão emprestando tão facilmente. As vendas sem entrada praticamente desapareceram do mercado e em geral exige-se entre 20% e 30% do valor do carro, lembra Sebben, da Fenabrave-PR. Com o acesso ao crédito mais difícil, o consumidor também está mais cauteloso na hora de comprar. “O fluxo de pessoas está em média entre 5% e 7% menor neste ano que no mesmo período de 2010”, diz Sebben.
Carlos Kucinski, diretor da Acae Mitsubishi, que trabalha principalmente com os bancos Itaú, Bradesco e Santander, diz que os prazos de financiamento também não superam mais os 60 meses, como no passado. “O setor está se acomodando”, avalia. Pela primeira vez, o setor passou, segundo Carbonari, a diferenciar o tratamento dado a clientes. “Há uma distinção clara entre quem tem um bom histórico e quem não tem. Quem tem potencial para comprar, mas teve alguma restrição recente, não consegue financiamento. Há uma preocupação com o risco mais evidente”, afirma.
Os juros cobrados pelos bancos das montadoras eram de 1,5% ao mês em dezembro do ano passado, e o prazo médio de financiamento, entre 42 e 43 meses. Para o diretor comercial do grupo Corujão, Antonio Carlos Altheim, a situação do crédito está mais complicada no mercado de usados. “Mas se os bancos não revisarem suas práticas, essa restrição vai afetar as vendas do ano tanto nos novos quanto nos seminovos”, diz. Segundo Altheim, os bancos de mercado são os mais conservadores. No grupo Corujão, metade das vendas são financiadas e, desse volume, esses bancos respondem por 50% dos empréstimos e o Banco Volkswagen, por outra metade.
Mesmo restrito, crédito deve crescer até 10%
A previsão da Associação Na­­cional das Empresas Finan­ceiras das Montadoras (Anef) é de que a inadimplência recue ao longo dos próximos meses e o cenário do crédito para o interessado em comprar um carro melhore aos poucos. “Apesar da inadimplência, temos um cenário mais favorável que em 2011. Inflação caminhando para o centro da meta e os juros caindo, além do aumento do salário mínimo e o bom nível de emprego”, acrescenta Décio Carbonari, presidente da Anef.
No ano passado, o saldo total das carteiras de financiamento para veículos, que incluem operações de leasing e de Crédito Direto ao Consumo (CDC), fechou em R$ 200,6 bilhões, 7,9% mais que em 2010. Para este ano, a projeção é de um aumento entre 8% e 10%. Embora melhor que no ano passado, a taxa ainda é inferior à registrada nos últimos anos, quando chegou a 25%. De acordo com Carbonari, presidente da Anef, no entanto, esse crédito deve ser puxado pelo consumidor de maior renda, que postergou compras por causa das incertezas em relação à crise internacional.
Paraná
Luis Antonio Sebben, diretor da Fenabrave no Paraná, prevê um crescimento de 6% nas vendas de veículos neste ano. Em 2011, o setor cresceu 5,62% no estado. Mesmo com os problemas para aprovação de crédito, cerca de 29,3 mil veículos foram emplacados no Paraná em janeiro, o número mais alto já registrado no primeiro mês do ano. O volume foi 13,7% superior ao do mesmo período do ano passado.

Revendas não poderão mais cobrar comissão
A partir desta semana, as concessionárias de veículos que vendem financiamentos vão se tornar correspondentes bancários. Uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN), editada há quase um ano, passa a valer a partir de amanhã. De acordo com a nova regulamentação, os concessionários não poderão mais cobrar comissões nem tarifas sobre os financiamentos vendidos nas lojas. Vão receber remuneração dos bancos para prestar esse serviço e não poderão mais embutir retornos no custo dos empréstimos, prática que se tornou mais comum com o aumento da concorrência no setor.
As comissões sobre os financiamentos contraídos nas lojas de veículos muitas vezes se transformaram em compensação para as margens apertadas nas vendas de carros. Com a disputa acirrada por preços menores, muitos concessionários deixaram de ganhar na venda e compensaram essas perdas com os chamados “retornos” das financeiras. A medida também exige que a concessionária exponha as tabelas de juros dos bancos.
O Paraná tem 670 concessionárias de veículos, entre matrizes e filiais dos segmentos de automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus, motos, máquinas agrícolas e implementos rodoviários. O segmento da distribuição gera 30 mil empregos no estado, cujas vendas representam 8% do mercado nacional.



Fonte: Jornal Gazeta do Povo

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